O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, agosto 31, 2011

A VAMPIRIZAÇÃO DA MULHER


“…o problema de vampirismo psicológico a que as mulheres estão frequentemente sujeitas...” S. D.

Esse vampirismo das mulheres, deriva invariavelmente do seu vazio emocional e da sua falta de centro ou identidade própria.
A mulher ao ser criada e educada exclusivamente para servir o homem, como filha amante e mãe…e mesmo que estude e se forme, é para ainda melhor servir o homem ou a nação, e nesse caso ela perde completamente a sua identidade, a sua razão de ser individual. E apesar de todas as aparentes transformações que hoje em dia lhes dão uma falsa cultura de liberdade…ela não passa afinal de uma manobra dos homens para as fazer continuar presas ao sistema e passarem a ser agora, não só a esposa e amante ou a mãe, mas também a académica, profissional, trabalhadora, empregada, polícia, militar ou acompanhante de luxo para além de prostituta, continuando sempre a acarretar com as expensas da casa e dos filhos…
Sempre esvaziada de si, dividida em estereótipos, sempre explorada em casa ou no trabalho, sempre vampirizada emocionalmente…
Claro, para as feministas,no início, parecia que isso poderia mudar se as mulheres ganhassem dinheiro, tivessem um ordenado igual ao dos homens e os mesmos direitos, mas elas não viram direito o que eram os direitos dos homens…e tudo ficou muito baralhado, mais sofisticado e as mulheres pouco ou nada ganharam com isso…aparentemente sim…mas a prisão é a mesma – apenas a pílula é dourada - e as doenças e as depressões e os cancros da mama e do útero provam que elas continuam sugadas pelos homens e pelos mau tratos, pelo cansaço, mesmo que só psicológicos o que é transversal a toda sociedade.

Seja como for em momento algum a mulher passou a equacionar a sua vida que não fosse em função de um qualquer destes aspectos…ela terá forçosamente de ser em função do homem=sociedade…ela não tem nem nunca teve vida própria, vida em si, nem sabe ainda o que fazer consigo se ficar sozinha. Continua a viver só para o outro e a perseguir o sonho romântico do homem que a há-de salvar…
Dir-me-ão que o homem também…que vive para a mulher, mas não é bem assim. O homem é auto-suficiente e não depende da mulher para ser o que ele quer. Ao homem é dada uma identidade fálica e de poder que lhe dá supremacia sobre tudo e quando isso não chega agarra em armas e dizima os povos ou viola as mulheres. Não precisamos de usar o modelo extremo de Kadaffi…com as suas 400 mulheres virgens suas guarda-costas e que ele e filhos e os seus militares a quem o “ditador” fornecia Viagra, violavam quando queriam. O Viagra, essa maravilha da ciência médica que serve para estimular os homens na cama em casa na guerra…pau em riste, espada e canhão…sendo o homem sempre um predador da mulher. Claro que a cultura falocrática convence a mulher de que essa é sua necessidade e que ela é insaciável e que sem coito ela não vive…porque ela é (existe) só em função do falo…sim, o “falo logo existo”, e esse é o domínio do homem sobre a mulher. Não só os escritores em geral como os filmes pornográficos, mas também os psicanalistas de renome e estudados nas universidades promovem e divulgam esta cultura…e que toda as mulheres e homens do mundo consomem…
Estes exemplos podem parecer caricatos quase, não fossem trágicos, mas nós lemos isto com um fait divers…como lemos e assistimos a tudo como um grande filme de ficção e como já não sabemos distinguir o real do fictício, nem sequer pensamos no que tudo isto significa na realidade e assim também vemos a mulher ser vítima das piores atrocidades no mundo e achamos que é irrelevante face à Crise…e ao nosso problema económico…

Quando eu digo que a mulher não tem identidade…que foi amestrada pela sociedade para servir e cumprir um papel, muita gente me acha radical…mas quando eu olho a Mulher e vejo que ela não é mesmo nada em si a não ser como mulher objecto…ao serviço da espécie…eu não me sinto como tal…o que eu sinto é que isto é uma atrocidade enorme e que as mulheres tinham de acordar deste sono milenar, desta anestesia geral que as torna sonâmbulas e obedientes…e que quando se revoltam e se despem…fazem-no ainda expostas aos predadores e continuam vítimas dos seus assédios e dos seus instrumentos de propaganda. Como é o caso das marchas das vadias ou das putas…Não é expondo a sua nudez em nome da sua liberdade, nem do seu corpo que elas vão ser elas mesmas…mas saindo dessa escravidão interior…desse plano de inferioridade que as leva a reagir ao mesmo nível e com as mesmas armas e em que sempre perdem…
As mulheres só têm um caminho…um caminho interior de consciência do seu feminino profundo e resgate do seu ser essencial…Mais nenhum caminho dará à mulher auto-estima a não ser o reconhecimento do seu poder interior enquanto mulher, enquanto ser autónomo na integração das suas partes fragmentadas e divididas. O caminho da mulher não é o de auto-mentalização espiritual ou pensamento positivo, aderindo aos sistemas de crenças que as aprisionaram durante séculos e que em nada mudaram ao exigir dela tudo…amor incondicional, paz, santidade, pureza e fragilidade e entrega etc.
O caminho da mulher é o redescobrir da sua força interior, da deusa em si, da mulher que emerge dentro de si mesma a mulher que se ergue e se distancia da mulher que foi narcotizada, drogada, vampirizada e negada como uma totalidade. Trata-se do resgate da sua mulher selvagem, da sua Medusa, da mulher primeva, Lilith, a mais oculta das sombras da mulher…
Afinal, trata-se da sua verdadeira identidade, a sua Anima, a sua força criativa…e só Lilith poderá libertá-la da saturação do masculino e do seu domínio sexual e emocional que a vampiriza em todos os sentidos…Sem que a mulher se redescubra e se reestruture a partir desse íntimo ser em si mesma - no mais recôndito dela mesma - ela vai continuar a “dar-se” sem limites ou a vender-se…vai continuar a ser absorvida pelos homens, pelo sexo, pelos filhos e pelo sistema…continuará a escrava de um escravo…
rlp

segunda-feira, agosto 29, 2011

UMA MULHER LÚCIDA



Liana disse...
Também nunca entendi essa história de se falar em sagrado masculino num estudo que deveria estar centrado na Deusa. Não é negar ou excluir a parte masculina pois é urgente que o homem se encontre e seja íntegro. Só que fica parecendo que estes grupos femininos estão dando um passo maior do que a perna. Como falar em integrar feminino e masculino, seja lá o que for que isso significa, se a maioria das mulheres sequer têm conciência do seu feminino ou do que fazer com ele? E que masculino é esse, se não nos reconhecemos, como identificar o masculino diante de nós? Somos nós mesmas nossa primeira e maior referência, se não temos consciência do que há de mais precioso e viceral em nós, nossa deusa interna, nossa própria sacralidade, como seremos capazes de reconhecer o sagrado no homem?


Penso que temos que ir com calma, começar com o básico. Há lugar para esses estudos para aquelas mulheres mais adiantadas contudo acho que sejam pouquíssimas. Vejo pressa nos outros, parece uma coisa fast food da Deusa. Naturalmente, falo como mera observadora pois venho buscando informações sobre Ela e vejo muitos estudos tendo como uma das premissas essa tal integração fem-masc e nem sempre encontro a conexão pura que a Deusa precisa para nos tocar. Sinto que não estão pavimentando e honrando corretamente o caminho para Ela.


Falam que a "força" é característica masculina, tendo sido as mulheres alijadas dela, buscar o masc. em si seria uma maneira de desenvolver esse lado. Mas será mesmo que a Deusa carece de força própria? Será que precisamos ir buscar no "vizinho" a nossa força? Raciocínio análogo também serve para os homens, se bem que eles tem a questão de terem seus corpos gerados e alimentados por uma mulher-deusa, da mesma forma que as mulheres, essa ligação é muito forte e primitiva. Mas mesmo assim penso que eles têm suas próprias versões do que é sutil, amoroso, intuitivo, acolhedor etc.


Enfim, acho que tudo o que buscamos sobre a Deusa está em nós mesmas e nas outras mulheres. Aceitar, reconhecer e interagir com o masculino é um processo necessário mas secundário.
»»»

Liana:

Agradeço imenso o seu comentário, justissímo e não podia estar mais de acordo consigo. Fico-lhe muito grata por ver que há mais mulheres lúcidas a pensar como eu...É urgente estarmos atentas a mais este atentado muito subtil e tentador... feito pelas próprias mulheres em nome da deusa... para nos afastar da nossa busca de integridade em nós mesmas...
Seria não só impensável que assim fosse,  ir buscar a nossa força ao masculino, como algumas mulheres promulgam nesse, como disse,  fast food da Deusa,  como seria totalemnte absurdo! E essa visão redutora da Mulher e da sua força não é mais do que um novo atentado à integridade da mulher e um deturpar de novo do seu poder interior que tanto temem os homens. Procuram desse modo impedir de novo a mulher de mergulhar no seu verdadeiro SER, como MULHER INTEIRA.
A mulher está efectivamente hoje muito mais ligada ao masculino, como não podia deixar de ser numa cultura totalmente masculina, do que jamais esteve ligada ao seu feminino. O Grande Feminino perdeu-se nos confins dos tempos, alienada a mulher desse seu poder interior e da sua consciência da Deusa. O feminino que a mulher usa, que se julga ser ela...e na forma como ela se expressa, é um falso feminino, é um feminino diria algo travestiado, resultado do que o homem pensa e tem definido (e escrito) sobre a mulher através da cultura e da arte há dezenas de anos.
Nós não sabemos nem estamos em contacto com o nosso verdadeiro feminino, o feminino de profundidade, o feminino sagrado. Apesar do trabalho das feministas sobre a mulher social, elas não contribuiram também em nada para a consciência da divisão das mulheres em si e aceitaram sempre como inevitável essa cisão entre a "santa e a puta". Por isso todo o esforço do nosso trabalho deve ser feito nesse sentido de unir esses dois aspectos da mulher dentro dela (o sensual e o maternal) - IR AO SEU ENCONTRO AO ENCONTRO DA MULHER ANCESTRAL - e não integrar mais masculino sobre masculino sem fazer a descida ao nosso centro, ao nosso fundo a esse incomensurável universo feminino puro...que nos foi interdito e inacessível durante séculos.
O medo do patriarcalismo do Poder da Deusa e da Mulher é aquilo que os homens mais recearam ao longo dos séculos e receiam ainda...por isso esta investida perigosissima contra a força natural da Deusa e da Mulher que desperta para ela mesma, afirmando-se que o poder da mulher está na sua força masculina...

A Grande Deusa e a verdadeira mulher estão indissociávelmente ligadas e o Aparecimento de uma passa pelo re-aparecimento da outra...
Quando a mulher encontrar o seu verdadeiro feminino e para isso ela tem de "esquecer" e ignorar completamente nessa descida o masculino, para poder mergulhar no seu fundo abissal do qual foi desviada precisamente pelo masculino para poder ser dividida e dominada à vontade pelas forças involutivas de controlo do mundo.
Mais uma vez obrigada por me trazer esta execelente visão do nosso trabalho.
rlp

sexta-feira, agosto 26, 2011

Acordar a Mulher que dorme na mulher






(cá estou eu a estragar-vos a festa do deus cornudo meninas...)

O trabalho da mulher com ela própria não é integrar o seu masculino....deusas!!!
O trabalho da mulher consigo mesma é encontrar e resgatar a Mulher que dorme na mulher...o resto é teoria, psicologia barata, ou negócio...
Não se deixem iludir...o comércio do "feminino sagrado" é uma nova moda...e dá lucro...
Tratar o "feminino sagrado" como o casamento dos opostos, o yin e yang, ou a integração do animus na mulher...é mais do mesmo e do velho patriarcalismo que se apoderou da new age... A New Age ao serviço do Sistema...
A mulher tem Animus a mais...falta-lhe é a sua Anima (não a do homem...) (Sim, eu sei que vos baralho, é de propósito...)
A mim ninguém me engana, estão a ver o que eu vejo ou não????
rlp

GRANDE ENGODO DAS ALTERNATIVAS MISTIFICADORAS


E O RISCO DE UMA NOVA QUEDA PARA A MULHER...

“Alquimizar e curar a relação masculino-feminino é a iniciação do nosso tempo e o fundamento do mundo ao qual a nossa alma aspira. Para além e a através de uma união mais íntima do que o conceito solar – lunar, mulher ou homem.”
Diana Bellego

Mais do que alquimizar e curar a relação masculino-feninino, a mulher precisa primeiramente e urgentemente de curar a sua ferida milenar da cisão das duas mulheres em si. Sem que a mulher integre e se consciencialize da sua separação interior e a fragmentação psíquica que vive como mulher metade nesta sociedade há séculos – entre a mulher anima, a mulher interior recalcada e esquecida do seu lado intuitivo e instintivo, e a mulher animus, masculina e de superfície que vive os estereótipos que o poder e domínio do masculino lhe destinou, reprimindo a sua natureza ctónica e telúrica, reduzindo a mulher à função de procriadora ou de objecto de prazer, não pode haver equilíbrio entre o masculino e o feminino de per se, nem se pode alquimizar a relação.
Sem a verdadeira mulher não há o casal alquímico nem há a OBRA..
A Alquimia entre os opostos complementares faz-se ou realiza-se quando a mulher está na posse do seu poder interno e consciente da sua natureza profunda…Não é esta mulher de superfície nem esta mulher intelectualizada-masculinizada e pretensamente feminina para agradar ao homem que vai unir-se ao verdadeiro masculino…se que ele existe também…
De qualquer modo a questão fulcral para a mulher deste tempo e que a sua alma aspira em profundidade é o encontro com ela mesma com as suas forças e poder interiores sem qualquer outro propósito…só depois e por acréscimo…haverá casamento alquímico ou não…se essa for a sua escolha, porque a homem precisa da mulher para SER…mas a Mulher não precisa do homem para SER ELA inteira!

RLP

quarta-feira, agosto 24, 2011

A DIVISÃO DAS MULHERES...




Ontem no zapping habitual da noite... parei num canal em que estava a dar uma telenovela portuguesa...e o diálogo era entre duas raparigas que se prostituiam...uma delas às escondidas tendo um namorado "ingénuo" e a outra já estabelecida, descontraida e "assumida"...Isto passa-se supostamente no Alentejo antes do 25 de Abril...
E eu estive atenta ao diálogo entre as 2 mulheres...e uma dizia à outra, à rapariga nova na cena..."mas tu pensas que homem algum te vai perdoar se casares com ele e ele souber que eras put...ou se fores com ele a passear um dia na rua e um cliente te fala e ele vem a saber. Não, nunca nenhum homem conviverá bem como isso nem o tonto do Caracol...Tens que esquecer o casamento e os filhos. Uma vez caida nesta vida é para sempre..." etc.

Enfim...não creio que este diálogo escrito por não sei quem...esteja muito longe do que pensam as mulheres e os homens comuns acerca das prostitutas...e se há intelectuais ou pessoas que mentalmente se julgam mais livres e abertas e não vêem já as coisas dentro destes padrões tão estreitos, há uma realidade e um fundo inconsciente até, onde as coisas se passam assim mesmo. Conheci mulheres de um nível económico e intelectual -cultural-social mais elevado, que quando a mulher se volta a apaixonar por outro homem ou casar e se divorcia...qualquer um deles...não só o ex. mas o actual à primeira desavença trata-a logo como uma puta...

Que mulher nunca sentiu essa ameaça na pele?
rlp

segunda-feira, agosto 22, 2011

DONA DOIDA...





Estou no começo do meu desespero


E só vejo duas saídas:


Ou viro Doida ou viro Santa


Como abrir a janela se não for Doida?


Como fechá-la se não for Santa ?

(Dona Doida, Adélia Prado )



A mulher encontra-se constantemente face a este dilema: abrir a janela à sua natureza mais profunda, instintiva , sensual , a doida, ou então; fecha-la, e corresponder a ao modelo da mulher bem comportada, a santa, a inocente, a que ama de um amor dedicado e generoso, a mãe.

Viver estes dois aspectos do “ser mulher” em simultâneo, remete para um exercício de contorcionismo que só muitos anos de vincada paciência e muitos conflitos (internos e externos) podem leva-la a ver as rugas deixadas por estes estereótipos e conduzi-la à mulher consciente da sua natureza unificada.

Enquanto a mulher não tiver libertado estes dois aspectos do seu ser não se sente inteira e transfere para o homem o poder de fazer dela mulher, tornando-se assim, escrava do comportamento do homem e eternamente insatisfeita consigo e com os outros. É como se a mulher dissesse: Faz de mim mulher pelo teu desejo, pelo teu ardor. Dar-te-ei tudo de mim com a condição que tu fiques inteiramente comigo e que eu seja tudo para ti.

Não se trata contudo de integrar nada, como ouvimos frequentemente dizer, mas sim de conhecer profundamente as suas facetas e liberta-las das amarras das polaridades para que elas se unifiquem.

ANA VIEIRA

quarta-feira, agosto 17, 2011

AS FEITICEIRAS...



”Ela tem um desejo de mulher. Desejo de quê? Mas do Todo, do Grande Todo Universal.

(…)

A este desejo imenso, profundo, vasto como o mar, ela sucumbe, e deixa-se nele adormecer. Neste momento, sem lembranças, sem ódios nem pensamentos de vingança, inocente apesar de tudo, ela adormece na planície, confiante e entregue tal como a ovelha ou a pomba, descontraída e aberta, e se ouso dizer, apaixonada.

Ela dormiu e sonhou…o mais belo sonho. E como dize-lo? É que o monstro maravilhoso da vida universal, estava nela contido; e para lá da vida e da morte, tudo se mantinha no seu ventre e que ao fim de tantas dores ela deu à Luz a Natureza” *

* in AS FEITICEIRAS - J. Michelet

terça-feira, agosto 16, 2011

APESAR DE ...


MAS QUERO (te) INTEIRA, COM ALMA TAMBÉM...

"... uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso."

Clarice Lispector

segunda-feira, agosto 15, 2011

ABENÇOADAS SEJAM TODAS AS MULHERES...

A GRANDE DEUSA, A ÚNICA DEUSA...

A Deusa dos primórdios que as religiões do mundo dividiram em centenas de deusas e "aparições" em toda a Terra. E que os católicos transformaram num dogma..

MAS QUEM DIZ DEUSA DIZ TAMBÉM MULHER....SIM, AS MULHERES SÃO DEUSAS...MAS A GRANDE DEUSA É SÓ UMA...

"Quem diz religião da Mulher diz também sacerdotisa e maga, ou seja, intermediária cósmica. O mistério da mulher não se limita ao seu sexo: ele impregna todo o seu ser, inclusive (e talvez principalmente) o seu psiquismo. A mulher é intuitiva, porque sensitiva e unida aos ritmos cósmicos que capta. Ela conhece os segredos da vida e da saúde, das plantas e das flores.
(...)

Ela compreende as profundezas da alma humana: em seu inconsciente e por meio dele, relaciona-se directamente com as grandes correntes psíquicas que que nos levam e trazem. Ela seduz e aterroriza ao mesmo tempo. Todo o homem traz em si um "retrato falado" da mulher absoluta e, se viesse a conhecê-la na realidade, não mais poderia dela se separar: seria fulminado. Aliás o homem busca-a durante toda a sua vida. São raríssimos aqueles que a encontram, e quase poderíamos dizer: felizmente! É esse sonho, esse ideal inacessível que ele projecta, por exemplo nas estrelas"

(...)

In Tantra - O culto da femininlidade de André Van Lysebeth

15 DE AGOSTO...

O DOGMA DA VIRGEM CRISTÃ


"Ela é a virgem eterna, o que não quer dizer intocada, mas sim a que não vive sob o domínio do homem ." (Agustina Bessa-Luis)

A Imaculada Conceição é segundo o dogma católico, a concepção da Virgem Maria sem mancha ("mácula" em latim) do pecado original. O dogma diz que, desde o primeiro instante de sua existência, a Virgem Maria foi preservada por Deus, da falta de graça santificante que aflige a humanidade, porque ela estava cheia de graça divina. Também professa que a Virgem Maria viveu uma vida completamente livre de pecado.

A festa da Imaculada Conceição, comemorada em 8 de Dezembro, foi definida como uma festa universal em 1476 pelo Papa Sisto IV. A Imaculada Conceição foi solenemente definida como dogma pelo Papa Pio IX em sua bula Ineffabilis Deus em 8 de Dezembro de 1854. A Igreja Católica considera que o dogma é apoiado pela Bíblia (por exemplo, Maria sendo cumprimentada pelo Anjo Gabriel como "cheia de graça"), bem como pelos escritos dos Padres da Igreja, como Irineu de Lyon e Ambrósio de Milão. Uma vez que Jesus tornou-se encarnado no ventre da Virgem Maria, era necessário que ela estivesse completamente livre de pecado para poder gerar seu Filho.


Nos livros apócrifos

Muitas tradições religiosas em relação a Maria, guardadas na memória popular e em dogmas de fé, têm suas origens nos apócrifos, assim como: a palma e o véu de nossa Senhora; as roupas que ela confeccionou para usar no dia de sua morte; sua assunção ao céu; a consagração à Maria e de Maria; os títulos que Maria recebeu na ladainha dedicada a ela; os nomes de seu pai e de sua mãe; a visita que ela e Jesus receberam dos magos; o parto em uma manjedoura, etc. Vejamos a passagem do livro de São João Domicini, santo de origem italiana, sobre a Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria:


"E Pedro tendo no cantar do hino, todos os poderes dos céus respondiam com um Aleluia. E então o rosto da mãe do Senhor brilhou mais brilhante que a luz, e ela foi elevada para as alturas e abençoava cada um dos apóstolos com o própria mão, e todo deram glória a Deus; e o Senhor esticado adiante Suas mãos puras, e receberam sua alma e seu corpo inocente e sagrada. E com a partida de sua alma e corpo inocente o lugar foi enchido com perfume e luz inefável; e, vê, uma voz para fora do céu foi ouvida, dizendo: Tu és bendita entre as mulheres".

Nos evangelhos canónicos

Os quatro evangelhos, Mateus, Marcos, Lucas e João, não mencionam atributos miraculosos a Virgem Maria. Na narrativa bíblica, sua aparição ocorre nos momentos antes do nascimento, em trechos da vida pública e no martírio de Jesus Cristo. Além disso, ela aparece nos Actos dos Apóstolos, em oração com a Igreja reunida, à espera de Pentecostes.

Fonte: Wikipédia

Uma história mal contada...

"... Foi dito: o homem obriga a mulher a não sair (de casa), porque cada mulher que sai, no final cai. E esta é a supremacia do homem sobre a mulher!" - disse o Rabi Johanan b. Beroqah




A Serpente Alada

Não é que esteja zangada, mas estou triste. Carrego este peso enorme de uma falsa culpa que me atribuíram os falsos juízes que me condenam ainda hoje seja eu inocente ou culpada …São tantas as histórias e as mentiras que contam a meu respeito, tantas e tantas falsidades que por vezes eu não suporto mais tanto ódio, tanta inveja e perfídia…

Em primeiro lugar…não destilo veneno como eles dizem, nem mato…mas às vezes estou tão cansada de toda esta história mal contada que tenho ganas de destruir tudo e sim de os ferir de morte!...
Porque têm tanto ódio e medo de mim os homens, não sei bem, mas sei que puseram inimizade entre mim e as mulheres de quem fui e sempre serei amiga e isso agora é o que me importa!
O certo é que as mulheres ANULADAS como escravas, ou por medo dos donos-maridos que as amarravam em casa e mais tarde, tornadas beatas dos seus padres, começaram a odiar-me sem pensar na sua própria causa ou pelo medo que lhes foi instigado pelos monges-guerreiros que as amordaçaram à sua causa “divina” e árida, ao seu deus déspota e demente… que separou as mulheres e lhes infringiu males sem fim…Eles eram os homens do deserto, homens sem Mãe, que vieram e destruíram a fecundidade das senhoras dos lagos e das águas…Mataram a Deusa Mãe, perseguiram as sacerdotisas da deusa…e as tornaram prostitutas do seu deus…Dizem hoje “prostitutas sagradas” para meu desespero…porque o sagrado não se prostitui…dá-se e não se vende…
Na verdade eu só queria que elas não perdessem a sua consciência de Deusas da Vida e da Cura, Rainhas e senhoras de si, todas elas Virgens afinal de contas, na verdadeira acepção da palavra! Mas eles inverteram tudo e só por isso dizem o que dizem ainda…
Disseram à mulher que eu lhes morderia o calcanhar, e obrigaram a VIRGEM
que eles elegeram aos altares das suas igrejas, a esmagar-me a cabeça a seus pés em todas as suas estátuas me mostram assim... Eu esmagada aos pés de uma deusa de pedra, morta, e criaram esta velha inimizade entre as mulheres da Terra…que reina em todo o Planeta…semeando a discórdia…e o ódio…

E é assim que eu apareço como o mais vil demónio, imundo e sujo, contra as mulheres, dizem, que lhes rouba os maridos e come as suas crianças ou as mata…a seu belo prazer! Disseram tantas e tão terríveis coisas sobre mim que eu pasmo de tanta ignomínia…inventaram amuletos de protecção e poções contra mim e o meu veneno…
Mas eu, quando no início desta história tentei EVA, que ademais era minha filha, juro, era só para ela se lembrar de que sem a Sabedoria da Grande Mãe, perderia a alma ou a liberdade de si mesma, o que veio a acontecer, e em nome dela, todas as mulheres se tornaram aos poucos obedientes e servis aos patriarcas, sendo obrigadas durante séculos a traíram-se ao esmagaram-me a cabeça, que lhes servira já de Coroa e com que andavam erguidas antes da minha Queda!

Não quero parecer cínica, mas não sei mesmo porque foi o Deus deles tão duro comigo.
Não lhe quis estragar os planos, porque Jeová no início estava do meu lado…mas não sei porquê mudou de opinião…e ouviu Adão; eu só queria ajudar as mulheres, que ao contrário do que dizem, não são uma costela de Adão, nem pecadoras…ou inferiores…mas iguais a mim, todas sibilinas e astutas, tão inteiras e completas como eu... que tenho cauda com que me satisfaço e reproduzo deuses... e asas para voar sempre que me dá na gana! E foi isso que enfureceu Adão…
E se elas me tivessem ouvido, em vez de rastejarem vazias e desprezadas toda a vida aos pés dos homens e dos filhos, vencidas e submissas, hoje erguer-se-iam na vertical e exigiam o Paraíso que é seu!

Mas eu voltei para repor a História verdadeira, para vos dizer de novo quem Eu Sou.

Eu sou Lilith, a Mulher Velha que todos desprezam e que detém a mais antiga Sabedoria do Mundo. Eu sou aquela que detém o segredo do Universo e das estrelas…
E digo-vos, qual é o meu segredo: o veneno da Serpente, transmudado, pode, alquímica e sabiamente usado, transformar-se em asas, elevando-vos aos céus sem vos tirar os pés da Terra nem abdicar do vosso Eu profundo e imenso...

rlp

quarta-feira, agosto 10, 2011

Porque É Ela que nos inicia e coroa…

RESGATAR LILITH
“ Na tradição cabalística, Lilith seria o nome da mulher criada antes de Eva, ao mesmo tempo que Adão, não de uma costela do homem, mas ela também diretamente da terra. Somos todos os dois iguais, dizia a Adão, já que viemos da terra. A esse respeito discutiram os dois e Lillith, encolerizada, pronunciou o nome de Deus e fugiu para iniciar uma carreira demoníaca. Segundo outra tradição, Lillith seria uma primeira Eva: Caim e Abel brigaram pela posse dessa Eva, criada independentemente de Adão e, portanto, sem parentesco com Eles. Alguns vêem aqui traços da androginia do primeiro homem e do incesto dos primeiros casais. Lillith, torna-se assim inimiga de Eva, a instigadora dos amores ilegítimos, a perturbadora do leito conjugal. Seu domicílio será fixado nas profundezas do Mar Morto, e objurações tendem a mantê-la ali, para impedir que perturbe a vida dos homens e das mulheres sobre a terra. (…)*


E DESTAPAR A PONTA DO VÉU DE ÍSIS…

É preciso que a mulher descubra o seu verdadeiro rosto…
Não adianta honrar a Deusa sem honrar a mulher em nós…

De nada serve cultuar a Deusa sem sabermos o que significa a sua caminhada interior nem a descida ao mais profundo dos abismos. De nada serve imitarmos os seus rituais sem termos descoberto o segredo que nos foi ocultado durante milénios e vivê-lo na nossa pele!

De nada serve cultuar a Deusa sem integrar as duas faces da mulher…sem que saibamos primeiro quem somos em essência – e a nossa essência não é só o sangue e dar à luz e sermos amantes…

É muito mais do que isso e sem que nos liguemos á Natureza primordial do nosso ser, sem termos olhado esse outro lado oculto de nós, a mulher reprimida, a mulher negada, a mulher raivosa, a mulher frustrada, a adúltera, a frígida ou a mulher infeliz, a mais desgraçada das mulheres, não encontraremos a Deusa em nós.

Para encontrarmos a Deusa temos de fazer essa descida aos subterrâneos mais secretos do nosso ser onde está a Rainha da Noite à nossa espera…Aquela que chora dia e noite e não faz mais do que esperar que a vamos resgatar…

Porque É Ela que nos inicia e coroa…

O caminho da mulher é antes do mais encontrar-se com o seu lado oculto, o seu lado escuro, aquele que lhe reflecte a sua “outra metade” – que ela espera em vão toda a vida no amor do homem porque parte mutilada de si ao encontro desesperado com o homem ou com deus…

“O modelo feminino permitido ao ser humano pelo padrão ético judaico-cristão baseia-se no de um fragmento do ‘primeiro ego’: Adão. Vários textos históricos (2), no entanto, citam uma variante, a criação de Lilith, a primeira mulher, feita em igualdade de condições com o primeiro homem e expulsa do Paraíso por tentar fazer valer essa identidade.”*

Sem que a mulher faça esse caminho de retorno ao seu ser verdadeiro para reunir as duas mulheres separadas pelo catolicismo, a Lilith e a Eva, ela nunca compreenderá a sua natureza profunda nem a sua face de amante livre e selvagem. Sem esse seu outro lado, ela nunca poderá servir a Deusa, mas sim e ainda o patriarcado que a dividiu com esse propósito em duas metades antagónicas. Porque é essa mulher fragmentada e que vive em pedaços que se busca desesperadamente em tudo à procura de si mesma – e não é por acaso que ela se mutila e vende o corpo na procura de uma valorização através de uma aparência ideal que lhe dizem ser magra e sempre jovem…e ter muito dinheiro!

Se a mulher não tiver essa consciência de si, a partir de dentro e não vinda de fora, sendo ela como for na sua aparência ou idade, se ela não tiver essa aceitação do seu lado negro, ela não poderá entrar na sua plenitude de mulher sábia, amante e mãe, pois não conhece nem tem acesso a essa integralidade do seu ser autêntico. Não terá acesso ao seu dom de vidente, de curadora e iniciadora do amor e do homem, nunca poderá realizar-se na dimensão do seu ser total.

“Não se sabe com certeza de que forma a lenda de Lilith, esta primeira companheira de Adão, foi banida da versão Bíblica da Igreja. Mas indo às Escrituras hebraicas poderemos encontrá-la como uma mulher feita de pó negro e excrementos, portanto, condenada a ser inferior ao homem. No fundo, Lilith já fora criada como um demónio, tendo gerado, juntamente com Adão, outros seres iguais a ela, que se vingam na humanidade . Essa natureza satânica é, por assim dizer, uma advertência do que a cultura rabínica e patriarcal nos faz com relação àquela que perturbou a noite toda o sono de Adão: Lilith, feita de sangue (menstruação) e saliva (desejo), uma expressão da fatalidade. Neste ponto, Lilith é mais fiel ao protótipo da mulher do que a submissa Eva, embora ambas tenham sido veículo do pecado. Só que a recusa ao desejo, ao sonho erótico que subtraiu a porção divina de Adão chega, com Lilith, a extremos surpreendentes após a separação deste casal.”*

Porque nós somos essa Rainha!

Muitas mulheres partem para uma “espiritualidade” à procura da sua “outra metade” num Mestre ou em Deus, como procuram no amor do homem, mas se elas não se encontrarem primeiro com elas mesmas e continuarem a fugir da sua Sombra (Lilith) que consideram “pecaminosa”, culpada ou inferior, de acordo com o que o sistema religioso, económico e cultural lhes inculcou desde a mais tenra infância, ela vai padecer sempre dos mesmos sintomas de carência e mal-estar e sentir-se rejeitada.

“Encarnando o feminino negativo, Lilith transfigura-se, posteriormente, em inúmeras deusas lunares ( Ihstar, Astarte, Isis, Cibele, Hécate), arquétipos das forças incontroláveis do submundo ­ A Lua Negra. Até ser personificada pela bruxa, na Idade Média, contra a qual o homem moveu uma das mais sangrentas perseguições de toda a sua história.”

As Evas que não compreendem a sua outra face, que não integram Aquela que afinal lhes deu a comer do fruto da Árvore do conhecimento e viu que era bom, (mas os padres disseram que era mau…) continuarão a fugir de si mesmas, a trair as outras mulheres, a repudiar as mães e as filhas, a matar os filhos para servir o homem – ou no mínimo a deixar que os homens matem os seus filhos na Guerra ou os violem em casa e na igreja – porque essas mulheres foram e são o alicerce de uma igreja que sempre as condenou e viveu à custa do seu sangue e do seu sofrimento. Serão inimigas da outra mulher que afinal é só a sua outra face…

Elas seguem os mestres mais variados e as religiões que sempre as condenaram com inferiores e culpadas da “queda” do homem, porque, desconhecendo a sua origem e história, desconhecendo uma parte integrante de si mesmas, não integraram nem compreendem a verdadeira natureza do seu feminino, o feminino sagrado que vivido como profano, condenado ao pecado pelas tradições patriarcais negam a sua essência ao negarem a Natureza Mãe os seus ciclos lunares, a sua natureza selvagem porque as tradições judaica ou cristã as ataram de pés e mãos e as excluem da sociedade tanto como desprezam a Terra Mãe e a Deusa.

“Enquanto mulher for desdenhada ou abandonada por causa de outra, Lillith representará os ódios contra a família o ódio aos casais e aos filhos; evoca a imagem trágica das Lamias na mitologia grega, assim não pode integrar-se nos quadros da existência humana, das relações interpessoais e comunitárias, foi assim lançada novamente ao abismo. “

Também as feministas cometeram o erro de julgar o Sagrado como culpado da degradação da mulher ao associarem O Sagrado à Igreja católica, e às religiões em geral, quando justamente nos rituais das religiões deixa de haver a evocação e a experiencia do Sagrado, para haver apenas “o profano”, o ritual morto – pois só a mulher permite entrar nos Mistérios do verdadeiro Sagrado.

Os Mistérios da Deusa Mãe e da Terra, os Mistérios Eleusianos foram fonte de conhecimento e iniciação na Grécia durante mais de 3 mil anos e foi o cristianismo que apagou da face da Terra o culto da Deusa e da Natureza Mãe assim como varreu dos lugares sagrados as legítimas detentoras dos ofícios sagrados e imitou os seus ritos e as vestimentas das sacerdotisas…

E assim, depois de vários séculos, o usurpador da iniciação feminina e da Deusa é “o padre que oficia nos seus trajes de cerimónia, todos de origem feminina, e o travesti, castrado ou não, obedecem a um mesmo desejo. Destapar uma ponta do véu, descobrir o famoso véu de Ísis.”*
*Jean Markale (historiador francês)

Rosa Leonor Pedro

(* as citações em itálico são de vários escritores cujos nomes baralhei e agora não sei dizer o que corresponde a quem…do que peço desculpa aos mesmos; mas o meu imperativo é a divulgação da consciência do feminino e por isso o seu contributo pode passar anónimo, penso?)
REPUBLICANDO

domingo, agosto 07, 2011

À ALMA DA MINHA ALMA



"Estou já tão perto de ti que uma sombra soluça"

(....)
Escrever seria amar-te? Seria
Interromper este deserto limpar a ferida aberta?
Seria entrar no interior do centro fresco
percorrer essa praia que ninguém ainda pisou
beijar os teus sinais e a sede límpida
que desenha toda a chama alta do teu corpo?

Estou já tão perto de ti que uma sombra soluça
Estou tão perto de ti que o poema principia
Toco as sílabas da pedra as sílabas do corpo
A minha língua arde sobre o teu corpo frágil
O perdão do teu olhar é o amor da luz

ANTÓNIO RAMOS ROSA
Boca Incompleta, 1977

sexta-feira, agosto 05, 2011

MULHERES e amantes de si mesmas...

AINDA O MEDO DAS MULHERES DE SI MESMAS
E DAS OUTRAS MULHERES

...UMA IMAGEM QUE CHOCOU O MUNDO -
EM VEZ DE SE  INSULTAREM DUAS MULHERES DE HOLLYWOOD  BEIJARAM-SE EM PUBLICO NOS ÓSCARES...

….Sempre fui muito apaixonada e intensa com as mulheres, se calhar elas não gostavam da minha intensidade...muito mais intensa do que com os homens...estranho mesmo... Ao contrário das mulheres a que a Rosa se refere. Como se elas fossem a minha imagem no espelho, alguém que me compreendesse realmente em tudo, algo que nunca encontrei em homens...naquelas coisas que só as mulheres podem compreender...não sei se me faço entender...é complicado...


É complicado Sophia...
Mais tarde havemos de falar melhor, digo ao vivo, dessa intensidade de SER MULHER que só encontra eco no espelho de outra mulher. Esta é uma questão essencial e também de difícil abordagem, por isso, torna-se muito difícil para as mulheres veicularem sentimentos e emoções. Elas estão de tal modo centradas e formatadas para viver só a sexualidade, uma sexualidade que não é sequer a delas, viradas exclusivamente para os homens e o seu (deles) prazer, que nem sabem que o fazem em detrimento de si próprias. Elas não têm consciência de si no sentido ontológico nem da sua própria sexualidade sagrada. Porque foi isso justamente o que sistema ao longo de séculos anulou na mulher afastando-a da sua essência. Assim, as mulheres não sabem lidar com as suas emoções nem se conhecem intrinsecamente e facilmente negam a intensidade de emoções que não partilham com os homens, completamente bloqueada e distorcida nelas, e menos ainda a conseguem vivenciar com as mulheres, o que poderia ser uma ajuda para as desbloquear… Elas podem fazer terapias e massagens, mas aproximarem-se emocionalmente de outras mulheres isso as assusta porque sendo a emoção de cariz erótica elas não se sentem à vontade diante da intensidade emocional de outra mulher...têm medo e o filtro da ideia redutora de uma sexualidade grosseira, leva-as a temer uma aproximação homossexual. Às vezes desejam-na mas isso ainda as afasta mais.

Na verdade eu sempre senti como tu dizes; a atracção substancial, visceral quase pelo mundo feminino…o meu universo é e sempre foi essencialmente feminino e de facto também nunca encontrei nos homens a intensidade emocional ou nem sequer essa dimensão da emoção-sentimento…porque como também sabemos, da mesma forma que a mulher é desviada de si na sua essência, preparada para se dar-servir e vender-se ao homem, o homem também é à partida desprovido de sentimentos e emoções, o que cria esse grande fosse entre os sexos opostos…As sexualidades são no homem de resolução fácil e rápida…nas mulheres difíceis e elaboradas. O corpo de desejo de um e de outro diferem muito na intensidade…Os homens não suportam a intensidade das mulheres, a sua insatisfação…e têm pavor de ficar mal na fotografia então vá de estragar e denegrir o desejo da mulher e assim, a que passar das suas marcas e limites é tem um só destino: é puta…
Hoje em dia pode-se contestar em parte esta afirmação mas…Nós sabemos…um homem não chora e a mulher chora por tudo. O homem é sensato e racional, a mulher é uma histérica!

Basicamente aqui está a perfeita ilustração de como o sistema manietou ambos os sexos no seu interesse programado para a procriação (criação de escravos-trabalhadores) exclusivamente e dispondo ainda da mulher para a colocar ao serviço das pulsões violentas e de descarga dos homens (controlando a revolta e o sentimento de frustração) oferecendo-lhes as mulheres-prostitutas para que se vinguem delas na sua cólera contra a Mãe e o Mundo ou a sociedade e o regime que os oprime…
Na China e na Índia, matam as meninas ao nascer ou abortam ainda as filhas…Hoje já faltam mulheres e o sistema acaba por prostituir meninas escravas para controlar a ira e o vazio dos homens, que vendem as próprias filhas e as irmãs…
E em muitas partes do mundo ainda são as próprias mães que incitam as filhas à prostituição ou se não…as forçam a casar com homens ricos como antigamente os pais vendiam ou trocavam as filhas por vacas e rupias…carneiros?

Mas deixando a ignomínia desta história e voltando a intensidade da Mulher, essa busca de espelho que a mulher não encontra sequer na mãe…porque a mãe nega a filha e elege o filho – só o filho varão é o filho, como se a filha e isto é uma memória atávica que perdura nos nossos dias a nível inconsciente, não passasse de um útero para encher ao serviço da espécie (e que espécie – quem está a mulher a servir?) e sujeita a todas as vicissitudes…A mãe sabe isso e foge da filha que sabe vai só sofrer e ser anulada como ela…Então a filha volta-se para o pai “bondoso” à procura da mãe…e nega a mãe em carne e osso; prepara-se para servir o seu “propósito” de fêmea exclusivamente e esquecer quem é… Tudo está sob controlo…da psique masculina, do ideal patriarcal, desde Zeus, o senhor que controla ainda o nosso mundo arquetípico…até ao deus pai todo-poderoso dos católicos que continua a perseguir e matar as mulheres em nome da sua fé…

Voltando de novo a essa intensidade de que falas, esse fogo peculiar que a mulher vivencia na Grande emoção de Ser Mulher, a grande Mística do feminino, quando está em contacto com a sua essência, a mulher que descobre essa intensidade em si e a manifesta-expressa a outra mulher e lhe espelha essa intensidade ou mesmo o seu amor solidário (devia dizer lunar?) ambas podem ficar confusas e uma delas preferir fechar-se a si e à outra mulher que lhe espelha uma emocionalidade reprimida; ela prefere reduzir-se a si e à sua vida a uma sexualidade genital e depois refugiar-se na maternidade compulsiva onde acaba por castrar o filho….e repudiar a filha...

Ela não conheceu o amor da Mãe nem da irmã…uma outra mulher é-lhe estranha…como ela é estranha para si mesma…

Realmente isto nada tem a ver com sexo à partida e seria demasiado redutor trazer aqui essa consideração embora não seja, a um outro nível, totalmente descartável, porque a homossexualidade existe, mas não é obrigatória em todas as relações nem em todas as emoções partilhadas entre mulheres por mais intensas que estas sejam. Estamos a falar de amor entre mulheres sim, mas de
Amor e não de sexo. Sexo não é amor…e pode haver sexo com amor e sem amor. Mas nem sempre a atracção por outra mulher por parte de uma mulher significa sexualidade ou desejo sexual. A sensualidade existe nas relações e na vida…a sensualidade emoção erotizada existe no amor mais “puro” (deploro o termo porque não há amor impuro a não ser quando tomamos por amor a relação abjecto-abjecta quando vivida como mera descarga do macho, com violência e pelo abusador). Lamento mas o Sado-masoquismo é uma manifestação mental doentia de negação do amor e da consciência ontológica… e não me venham dizer que é a liberdade nem o prazer o seu mote…ou que a natureza-instinto é violenta – não comparemos o lado instintivo humano com o animal porque há uma grande diferença!).

Na verdade o que se passa é que há séculos e séculos que a mulher e a mãe e a natureza são violadas…A Mãe é negada ao homem e à mulher na sua dimensão maior e na sua condição humana. E porque o homem e a mulher não conhecem o amor da mãe nem da irmã, (sem ser nos moldes de um domínio e sujeição da mulher e onde pode haver afecto, mas não igualdade) não podem sentir nem partilhar dessa intensidade feminina excessiva e intensa…a não ser que uma mulher nasça com essa intensidade e isso a faça romper esses condicionantes, o que é o meu caso e talvez o teu…Sophia…ou da Ana V., mas, o pior ainda, nos nossos dias, é que como tudo é pautado por uma baixa sexualidade, não vendo as pessoas na sua vida, regulada por padrões medíocres, mais do que sexo nas relações entre as pessoas, vão projectar isso também entre sexos iguais, sem discriminação nem compreensão dos profundos sentimentos que podem unir os seres independentemente dos sexos… E quantas mulheres e homens não foram empurrados para uma homossexualidade forçada só porque amavam e sentiam profunda emoção entre pessoas do mesmo sexo?
Nós todas passamos por esses confrontos e fomos perseguidas…
Tu porém casaste e tiveste filhos…uma filha de um mau casamento, típico, e um segundo, atípico talvez de quem tens um filho…A Ana também. Mas eu não. Não casei nem tive filhos. A minha experiência de vida forçou-me a concentra-me exclusivamente nessa intensidade e a descrevê-la…em poemas e textos, livros… Eu passei por todos os confrontos e vivências na senda única do SER MULHER e na busca de encontrar o sentido e a expressão cabal dessa intensidade.
A conclusão a que agora chego é que as mulheres que não se encontrem a si e a essa intensidade de mulheres, a esse amor delas mesmas que se reflecte nas outras mulheres, não estão preparadas para viver a sua totalidade…Aí quando muito, como mulheres crianças que são, voltarão à procura da Mãe na Deusa e serão apenas as filhas… e o seu comportamento com os homens será o mesmo…e de competição com as outras mulheres!

Este aspecto da mulher ser una em si e capaz de se exprimir sem medo é dos mais complexos; este como outros que referem as emoções mais profundas e ainda mais quando se trata de emoções, ou atracção entre os seres, direccionados culturalmente apenas para o casal procriador, têm sido escamoteadas e analisadas de um ponto de vista redutor que é a visão rudimentar da filosofia patriarcal, e principalmente dos místicos que não só baniram a mulher e a Deusa como condenaram todas as suas expressões de amor e paixão com diabólicas e que uma ciência e uma psicologia em geral, já materialistas que só tiveram basicamente em conta os aspecto do conhecimento linear, o lado racional e o empírico e só agora – fim de sec. XX e princípio do sec. XXI - começa a enveredar por uma maior abrangência do universo humano e cósmico…

Ora nós temos de inovar, ainda que indo buscar aos confins da nossa memória a nossa ancestralidade, temos de trazer algo de novo ao universo da mulher e do homem…Mas a nós mulheres compete-nos não escrever sobre os homens, mas escrever a parte da história que não foi escrita por nós e em que sofremos todo o tipo de conceito e ideias absurdas acerca do que é ser mulher, acerca do que é a nossa sexualidade e do que são as nossas emoções. Nós temos todo um trabalho inédito pela frente e não temos recursos nem história do nosso lado…Somos pioneiras. Só nos temos a nós e a nossa coragem de finalmente sermos quem somos com toda a ousadia e afirmarmo-nos sem complexos!
Para isso precisamos umas das outras…não como amazonas…não como revolucionárias, mas como fiéis dignitárias de um Poder imenso de Amor em nós.

rlp

quarta-feira, agosto 03, 2011

Para além da psique...


TEMOS DE IR MUITO MAIS FUNDO...

"Tenho estado a meditar sobre o poder do feminino que tanto medo mete ao patriarcado....que poder é esse? De onde vem? o que podemos fazer com ele e como resgatá-lo?
De facto, tanto nas teorias orientais como na psicologia das profundezas do Jung, fala-se da dualidade masculino/ feminino; como se tivessemos que ficar por aí, presas a esses dogmas...Ora se pegarmos no Jung e no conceito de Anima/Animus, vemos logo que o poder do feminino sagrado nunca poderá vir deles....Tanto o Anima como o Animus sâo formados a partir de introjecções feitas durante a infância...portanto essas teorias de que é necessario o equilibrio entre o masculino e o feminino, nâo têm sentido porque as representações que temos interiorizadas sobre a identidade de genero advêm das nossas experiências familiares e sociais. Mas ainda há mais; A Rosa fala e com muita Razão, das mulheres que adoptaram os parametres do poder masculino, para elas, e assim se afastaram do que é a mulher inteira e sagrada. Pois essas mulheres sâo as que vão resgatar os seus animus...elas só conhecem essa forma de adquirir poder. E por enquanto é a única conhecida (a meu ver). Vamos ter que ir muito mais fundo se quisermos na realidade vivenciar esse feminino, que intuo ser total, não dual e muito poderoso. Vejo-o como um movimento circular...a mulher acolhe, desenvolve e expulsa para o mundo, tal como o circulo da vida/morte/vida...é total e uno."

ANA VIERA