O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, fevereiro 28, 2012

A MULHER LIGA-SE A FONTE...


— O útero — repetiu Esperanza — é o órgão feminino fundamental, o que dá às mulheres esse poder, essa força extra para canalizar sua energia.



— É hora de saber o que a faz ver a melhor versão do seu trabalho original. — Esperanza me piscou o olho como para enfatizar que estava para me revelar um segredo retumbante.

— Quando ensonhamos despertas, nós temos acesso ao conhecimento directo.

Observou-me um longo período, e havia desagrado nos seus olhos.

— Não seja tão densa! — Nélida me cutucou impaciente. — Ensonhar desperta deveria ter-lhe demonstrado que possui, como todas as mulheres, uma capacidade sem igual para receber conhecimentos directos.
Com um gesto Esperanza me indicou para ficar em silêncio e disse: — Sabia que uma das diferenças básicas entre homens e mulheres é a maneira como encaram o conhecimento?
Eu não tinha ideia do que isso queria dizer. De maneira lenta e deliberada arrancou uma folha em branco do meu caderno e desenhou duas figuras humanas, uma das quais coroou com um cone e disse que era um homem. Sobre a outra cabeça desenhou o mesmo cone, só que invertido, e o declarou ser a mulher.

— Os homens constroem o seu conhecimento passo a passo — explicou com o lápis apontando à cabeça coroada pelo cone. — Tendem para cima, trepam em direcção ao conhecimento. Os feiticeiros dizem que os homens se estiram como um cone na direcção do espírito, para o conhecimento, e este procedimento limita até onde podem chegar — repassou com o lápis as linhas do cone da primeira figura. — Como poderá ver, os homens só podem alcançar uma certa altura, e o seu caminho termina no ápice do cone.

— Preste atenção — advertiu, apontando com o lápis à segunda figura. — Como poderá ver o cone está invertido, aberto como um funil. As mulheres possuem a faculdade de abrir-se directamente à fonte, ou melhor dizendo, a fonte lhes chega de maneira directa, na base larga do cone. Os feiticeiros dizem que a conexão das mulheres com o conhecimento é expansiva, enquanto que a dos homens é bastante restritiva. “Os homens se conectam com o concreto — prosseguiu —, e apontam ao abstracto. As mulheres se conectam com o abstracto, e contudo tratam de entregar-se ao concreto”.

— Por quê? — perguntei —, sendo as mulheres tão abertas ao conhecimento ou ao abstracto, são consideradas como inferiores?
Esperanza me contemplou  espantada. Ficou de pé, esticou-se como um gato, fazendo estalar todas suas articulações, e recuperou seu assento.

Que sejam consideradas inferiores ou, no melhor dos casos, que suas características femininas sejam consideradas complementares às dos homens, tem a ver com a maneira como uns e outros se aproximam do conhecimento. Em geral à mulher interessa-lhe mais dominar-se a si mesma que a outros, um tipo de domínio claramente ambicionado pelo homem.

— Inclusive entre os feiticeiros — acrescentou Nélida para satisfação das mulheres.

Esperanza expressou sua crença de que originalmente as mulheres não consideravam necessário explorar essa facilidade para unir-se directa e amplamente ao espírito. Não achavam necessário falar ou intelectualizar acerca desta sua capacidade, pois lhes bastava accioná-la para saber que a possuíam.

— A incapacidade do homem para unir-se directamente ao espírito é o que os impulsionou a falar do processo de alcançar o conhecimento — explicou. — Não pararam mais de falar disso, e é precisamente essa insistência em saber como se esforçam por alcançar o espírito, esta insistência em analisar o processo, o que lhes deu a certeza de que o ser racional é uma conquista tipicamente masculina.
Esperanza explicou que a conceptualização da razão tem sido obtida exclusivamente pelos homens, e isto lhes têm permitido minimizar os dons e as conquistas da mulher e, pior ainda, excluir as características femininas da formulação dos ideais da razão.

— É claro que na actualidade a mulher acredita no que lhe tem sido atribuído — enfatizou. — A mulher tem sido criada para crer que só o homem pode ser racional e coerente, e agora o homem é portador de um capital que o torna automaticamente superior, seja qual for sua preparação ou capacidade.

— Como foi que as mulheres perderam sua conexão directa com o conhecimento? — perguntei.

— Não a perderam — corrigiu Esperanza. — Ainda têm uma conexão directa com o espírito, só que se esqueceram como usá-la, ou melhor, copiaram a condição masculina de não possuí-la. Durante milhares de anos o homem tem se ocupado de fazer com que a mulher se esqueça do seu dom. Olhe para  a Santa Inquisição, por exemplo: esse foi um expurgo sistemático para erradicar a crença de que a mulher tem uma conexão directa com o espírito. Toda a religião organizada não é outra coisa senão  uma manobra muito  bem sucedida para colocar à mulher no nível mais baixo. As religiões invocam uma lei divina que mantém que as mulheres são inferiores.
Olhei-a assombrada, perguntando-me como podia ser tão erudita.

— Os homens necessitam dominar a outros, e a falta de interesse das mulheres por expressar ou formular o que conhecem, e como o conhecem, tem constituído uma nefasta aliança — continuou Esperanza. — Tem tornado possível que a mulher seja forçada, desde o seu nascimento, a aceitar que a plenitude se encontra no lar, no amor, no casamento, em parir filhos e em negar-se a si mesma. A mulher tem sido excluída das formas dominantes de pensamento abstracto e educada para a dependência do homem.

As mulheres têm sido tão bem treinadas para aceitar que os homens devem pensar por elas que acabaram por deixar de pensar.

— A mulher é perfeitamente capaz de pensar — disse eu. Esperanza me corrigiu.

— A mulher é capaz de formular o que aprendeu, e o que tem aprendido tem sido definido pelo homem. O homem define a natureza intrínseca do conhecimento, e dele tem excluído tudo aquilo que pertence ao feminino ou, se o tem incluído, é sempre de maneira negativa. E a mulher tem aceitado isso.

— Está atrasada em anos — objectei. — Hoje em dia a mulher pode fazer o que deseja. Em geral têm acesso a todo centro de aprendizagem, e a quase todos os trabalhos que desempenha o homem.

— Mas isso não tem sentido, a menos que possuam um sistema de apoio, uma base — argumentou Esperanza. — De que serve ter acesso ao que possuem os homens, quando ainda as consideram seres inferiores, obrigadas a adoptar atitudes e comportamentos masculinos para conseguir ter êxito? As que na verdade conseguem alcançar o êxito são as perfeitas convertidas, e elas também depreciam às mulheres.

— De acordo com os homens o útero limita à mulher tanto mental como fisicamente. Esta é a razão pela qual às mulheres, apesar de seu acesso ao conhecimento, não lhes tem sido permitido determinar o que é este conhecimento. Tenha em conta, por exemplo, os filósofos — propôs Esperanza. — Os pensadores puros. Alguns deles são encarniçadamente contra a mulher. Outros são mais subtis, no sentido em que estão dispostos a admitir que a mulher poderia ser tão capaz como o homem, se não fosse a ela não lhe interessar as investigações do domínio racional, e no caso de estar interessada, não deveria estar. Pois, dizem, fica melhor à mulher ser “fiel” à sua natureza, como companheira nutridora e dependente do macho.
Esperanza expressou tudo isto com uma inquestionável autoridade. No entanto, em poucos minutos, a mim já me assaltavam as dúvidas. — Se o conhecimento não é outra coisa senão do domínio do masculino, a que se deve então a sua insistência em que eu vá à universidade? — perguntei.

— Porque você é uma bruxa, e como tal precisa saber o que te afecta, e como te afecta — respondeu. — Antes de recusar algo deve saber por que o recusa.

“Sabe, o problema é que o conhecimento nos nossos dias deriva simplesmente de pensar nas coisas, mas as mulheres têm um caminho distinto, nunca antes levado em consideração. Esse caminho pode contribuir para o conhecimento, mas terá de ser uma contribuição que nada tem a ver com pensar nas coisas”.

— Com o que teria que ver então?

— Isso é para ser você a decidir, depois de ter dominado as ferramentas do raciocínio e da compreensão. Só depois…

Minha confusão era muito grande.

— O que propõem os feiticeiros — continuou Esperanza — é que os homens não podem possuir o direito exclusivo ao raciocínio. Parecem possuí-lo agora porque o terreno sobre o qual o aplicam é um terreno onde prevalece apenas o masculino.

Apliquemos então a razão a um terreno onde prevalece o feminino, e esse é, naturalmente, o cone invertido que te descrevi: a conexão feminina com o próprio espírito. Desviou a cabeça, como decidindo o que estava por dizer.

— Essa conexão deve enfrentar-se com um outro tipo de raciocínio, algo nunca antes empregado: o lado feminino do raciocínio. (o lado feminino do cérebro*)

— E qual é o lado feminino do raciocínio, Esperanza?

— Muitas coisas; uma delas é definitivamente ensonhar. — olhou-me interrogativamente, mas eu nada tinha a dizer.

Sua profunda gargalhada me pegou de surpresa.

Eu sei o que espera você dos feiticeiros: rituais e encantamentos, cultos raros, misteriosos. Quer que cantemos. Quer fundir-se com a natureza; estar em comunhão com os espíritos da água; quer paganismo, uma visão romântica do que fazemos.

Muito germânico. “Para submergir-se no desconhecido precisam de coragem e mente. Somente com isso poderá explicar a você mesma e a outros os tesouros que poderá encontrar.” — Esperanza chegou perto de mim, ansiosa ao que parecia, por confiar-me algo. Coçou a cabeça e bufou repetidas vezes, cinco vezes como o fazia o cuidador. —Precisa agir a partir de seu lado mágico — disse.

— E isso o que é?

— O útero — e o disse com tanta calma, e em tom tão baixo, como se não lhe interessasse minha reacção, que quase não a ouvi. Depois, ao dar-me conta do absurdo de suas palavras, me endireitei e olhei para as outras mulheres.

— O útero — repetiu Esperanza — é o órgão feminino fundamental, o que dá às mulheres esse poder, essa força extra para canalizar sua energia.

Explicou que o homem, em sua busca pela supremacia, tem conseguido reduzir esse misterioso poder, o útero, ao nível estrito de um órgão biológico cuja única função é reproduzir, abrigar a semente do homem.
Como se obedecesse a um chamado, Nélida ficou de pé, rodeou a mesa e veio parar-se atrás de mim.

— Conhece a história da Anunciação? — murmurou quase pegado a meu ouvido.

— Não — respondi, rindo.

Com esse mesmo sussurro confidencial me disse que na tradição judaico-cristã os homens são os únicos que escutam a voz de Deus. As mulheres, salvo a Virgem Maria, foram excluídas deste privilégio. Nélida disse que um anjo sussurrando à Maria era, logicamente, algo natural. Não o era em troca de que a Única coisa que pôde dizer-lhe foi que daria à luz o filho de Deus. O útero não recebeu conhecimento e sim, melhor dizendo, a promessa da semente de Deus. Um deus masculino, que por sua vez gerava outro deus masculino.

Eu queria pensar, reflectir acerca de tudo o que se havia dito, mas minha mente estava em total confusão.

— E o que acontece com os feiticeiros homens? — perguntei. — Eles não têm útero e, contudo, estão claramente conectados com o espírito.

Esperanza me olhou com uma satisfação que não tentou dissimular; depois olhou por cima do seu ombro como temerosa de que alguém a escutasse. Num murmúrio, apenas disse:

— Os feiticeiros podem alinhar-se com o espírito pois abandonam o que especificamente define a sua masculinidade. Já não são homens.
(…)

“Sonhos Lúcidos”
FLORINDA DONNER-GRAU
* sugestão minha...

sábado, fevereiro 25, 2012

Amé, sí y aún amo...

 
 
 
 
 
Todos los amores hacen contrapunto.
Uno toca su melodía, que el otro contesta y ...
se equilibra el ritmo, a veces sincopado.
Un amor da sentido al otro, como el agujero de un tejido que con la siguiente hebra forma el encaje.
El alma tiene bolillos
Y entre la síncopa de mis amores, el ritmo me lleva danzando hacia la pasión, hacia el nacimiento de la fuente, al interior de mis entrañas.
Amé, sí y aún amo;
amo la fuerza, la generosidad, la valentía.
Y amo las palabras, pedazos de afecto, pasarelas afectivas.
Amé, sí y aún amo...
la fuerza motriz, la fuerza matriz
Amé, sí y aún amo...
a todos aquellos que conmigo danzan los ritmos pulsantes
Tic, tac
El alma es un encaje de bolillos

As velhas mulheres são perigosas…


"Uma mulher empurra a"força da vida" para cima"

"O sistema radicular oculto cresce a seu próprio modo, independentemente de projecções, pressões e acontecimentos externos. Ele continua literalmente em efervescência, subindo em ebulição, fluindo para fora, para cima, atravessando o que for preciso, não importa o que tenha sido disposto contra ele. Aí incluídas forças externas. Aí incluída a própria mulher. "

“Dentro da psique de muitas mulheres existe algo que entende intuitivamente que o conceito de"curar" está incluído na palavra "saúde". Quando ferida, ela se torna "cheia de cura" — cheia de recursos de cura —, o que significa que algum filamento vibrante, gerador de vida, no seu espírito e na sua alma se move persistentemente na direcção da nova vida, seja na busca de muitos tipos de forças, seja na reconstituição da integridade perdida, seja na criação de um novo tipo de integridade, diferente da que havia antes. Essa força interna é cheia do impulso pelo bem-estar. Ela acredita num factor de salvação que pode resistir e há-de resistir à crueldade. O sistema radicular oculto cresce a seu próprio modo, independentemente de projecções, pressões e acontecimentos externos. Ele continua literalmente em efervescência, subindo em ebulição, fluindo para fora, para cima, atravessando o que for preciso, não importa o que tenha sido disposto contra ele. Aí incluídas forças externas. Aí incluída a própria mulher. Mesmo quando a actuação do ego é temporariamente reprimida, a mulher oculta por baixo da terra, a que cuida do fogo para esse fim, mantém a atitude pela vida — por mais vida! — que está sempre fazendo força para cima, sempre insistindo em mais vitalidade e se desenrolando, sempre preservando mais e sendo audaciosa e ponderada... e então mais um pouquinho, mais um pouquinho, até que a árvore da vida a céu-aberto equipare-se a seu amplo sistema de raízes subterrâneas. Quando falamos da criação da alma, aquela geração literal e ordenada de um sistema radicular cada vez maior, de um território da alma cada vez maior, conquistado e plenamente habitado estamos vivendo como vive uma árvore gigante... Ela não manda a energia só para cima. A medida que cresce acima do solo, ela envia energia de volta para baixo, com instruções para que o sistema radicular se intensifique, que busque mais nutrição, reacções mais ponderadas às condições... tudo para dar apoio à copa cada vez maior lá em cima. Não é diferente na vida de uma mulher. Qualquer uma que tenha registado seus sonhos e observado como eles estimulam e moldam seus dias; e como o seu dia-a-dia também influencia seus sonhos, sabe que existe um relacionamento complementar entre sua vida exterior e sua vida interior. Nos melhores casos, cada uma alimenta a outra e a torna sábia. O fundamento inextinguível dentro de uma mulher empurra a"força da vida" para cima, para sua mente, seu coração e espírito. Se ela prestar atenção, se escutar, obterá "ideias", em outras palavras,"filhas" brotarão dela na forma de ideias novas e vibrantes por uma vida maior e com mais significado.”


AS PERIGOSAS MULHERES VELHAS
clarissa pinkola estes

POR TODAS AS FILHAS E VELHAS...




"Por todas as filhas e velhas que, não obstante difamações culturais que digam o contrário, não obstante mágoas, decisões equivocadas, fracassos totais... são prova viva de que a alma ainda volta à vida, ainda vive, e de modo vibrante... por todas as filhas e velhas que, apesar de todas as fraquezas, apesar de toda a lengalenga do ego que indicaria o oposto, há muito tempo têm certeza, ou acabam de ter um vislumbre, de que nasceram com a sabedoria no corpo e na alma, eque essa sabedoria é tanto sua herança dourada como seu estopim dourado. Por todas as filhas e mais velhas que estão criando as referências que mais importam: prova de que uma mulher é como uma árvore gigantesca que, por sua capacidade de se mover em vez de permanecer imóvel, pode sobreviver às piores tempestades e perigos; e ainda estar de pé depois; ainda descobrir seu jeito de voltar a balançar, ainda continuar a dança. Por todas as filhas que ainda estão em formação, quer tenham acabado de começar, quer já tenham avançado no caminho, para se tornarem"ordinariamente majestosas" e tão sábias, indomáveis e perigosas quanto forem convocadas a ser — o que é muito. Muito. Muito."

CLARISSA PINKOLA ESTEES

sexta-feira, fevereiro 24, 2012

OS MITOS DA FELICIDADE...



NÓS, AS MULHERES...e a busca da felicidade...
(NUNCA ENCONTRADA...)

HÁ MUITAS MULHERES QUE PROCURAM DESESPERADAMENTE a dita felicidade...

Há mulheres que não pensam noutra coisa que não seja encontrar alguém que lhes possa colmatar o vazio da sua vida a sua falta de sentido em si...Mulheres que não pensam em mais nada nem querem saber de mais nada. Mulheres que dão e tudo e tudo fazem nessa miragem...
Mulheres que vivem obcecadas pelo par...que se destróem e que mutilam o seu corpo no sonho de encontrar um amor...que as mata...

Eu sei porque passei também por isso, como todas nós, mas o que está aqui em causa não é meramente esse facto absoluto da ideia e perseguição do par amoroso. Mas sim a urgência e a premência de começarmos a pensar de forma diferente, de darmos a nós mesmas espaço e tampo e a oportunidade de sermos sós...de sermos em nós quem nós realmente somos. Isto não é negar o "outro" e a sua necessidade, mas apenas fazer-nos pensar acerca do quão estamos longe de uma identidade própria, de uma autonomia e por aceitarmos esses factos que são completamente aprisionantes, manipuladores, como naturais. E não são. Temos em cima de nós toda a máquina social política e religiosa de séculos que nos fez pensar assim, que nos formatou assim; temos a a ciência e a cultura e até mesmo a literatura e a arte - o cinema e a música - que nos bombardeiam com o mito do par romântico até à exaustão...com a ideia de que sem o "par amoroso" não somos nada e que sem alguém que nos ame a nossa vida não vale nada...

Não, não é assim. E nós precisamos de acordar para nós mesmas e sentir que isso não é A verdade, a nossa verdade. Que nós temos um fundo incomensurável (como diz o poeta, a mulher é como o mar mais profundo nos seus sentimentos e emoções),  que nós temos uma verdade bem nossa por resgatar, que nós temos um potencial e um manancial imenso por revelar. Que nós somos capazes de mudar o mundo se começarmos a ver como fomos enganadas e traidas e persequidas em nome do "pecado"...que somos encaradas apenas como um corpo reprodutor e um sexo...Que somos exploradas até à medula, pelas industrias farmaceuticas e cosméticas, que o nosso Útero, os nossos ovários, os nossos seios são expostos às radiações mesmo sabendo que daí não advém a cura dos nossos males, e sujeitos a extracções dos mesmos mesmo quando não estão totalmente em risco, pela Máfia Medica, como "prevenção". Somos sujeitas a intervenções estéticas aberrantes para manter a imagem que o homem e os midea de nós espera e que se a não temos desesperamos pelo medo de não sermos amadas. Não só o nosso corpo é tratado aberrantemento pela mafia médica, estilistas e outros, como pelos midea, e ainda somos manietadas pelo Clero e pelo Estado...Para só nos focarmos no Ocidente "civilizado"...
Será que nós queremos tomar conta das nossas vidas? Será que nós queremos encontrar a nossa verdadeira identidade? A nossa verdadeira liberdade que é muito mais do que salário iguais e direitos laborais? Aceder a profissões de elite e altos cargos?
Será que nos contentamos em ser cobaias  e adjuntas, Atenas saidas da cabeça do Pai? A defender os homens e os seus filhos, filhas sem Mãe  e a atacar sempre as outras mulheres? Mulheres que se dizem antifemistas e "resolvidas" mas que odeiam e rivalizam com as outras mulheres por ódio e vingança, e que lutam por um lugar de chefia?

SERÁ QUE NÓS QUEREMOS SAIR DESTE CICLO INFERNAL EM QUE FOMOS APRISIONADAS PELO PATRIARCADO?

Se queremos sair deste longo cilclo vicioso de sermos a metada da  Humanidade banida e explorada, temos antes de tudo  libertarmo-nos desse mito da felicidade e da ideia obsessiva do "par amoroso", dessa tirania secular e começar a pensar por nós e para nós...temos de esquecer essa pseudo felicidade que nos prometem todo o tempo e que nunca existiu ao cimo do mundo e que mais do que ninguém nunca nenhuma mulher a viveu...

Por tudo isso prefiro as mulheres que se questionam e sofrem...que lhes dói na pele no corpo e na alma os processos do seu crescimento interior e da sua integração como mulheres, da sua consciência, do que as que continuam cegas em perseguição da sua felicidadezinha, do seu par amoroso, a cair sempre no mesmo enredo e nunca se dando conta de quem são e que são seres capazes de se bastarem e lutarem por uma individualidade e uma verticalidade antes de mais em vez de cairem sempre no mesmo erro. Claro que eu não digo que se não deva viver um amor...um "romance" ou acreditar que a pessoa certa na nossa vida possa aparecer...mas na verdade sempre que o lindo cavaleiro aparece acresce o drama e as dificuldades...o sofrimento...e a compreensão e a ajuda que precisamos e tanto sonhamos não acontece e porquê? Porque o lindo cavaleiro quer colo (ou sexo) e vem apenas buscar o que não tem e que a mãe ou a ex-mulher...(já) não lhe pode dar. E este é o círculo vicioso da mulher em relação ao "amor" do homem...Não raramente as mulheres depois de criarem os filhos e estão divorciadas ou separadas encontram um homem que já não é o dominador ou o algoz, mas que a breve trecho se transforma em mais um filho...carinhoso, mas caprichoso exigente e anulador do seu valor. Será este um destino ou uma escolha da mulher? É a mulher suficentemente consciente de si para o evitar e estar prevenida ou cai sempre no mesmo enredo sentimental, o mesmo ciclo vicioso, querendo ou não? Tem a mulher QUERER?

Será que a mulher algum dia terá a capacidade de SER ELA MESMA por si só? Amando sem se perder, amando por ser apenas MULHER, sendo livre e digna e sem se deixar manipular por velhos padrões e comportamentos que a têm impedido de ser um indivíduo integro, capaz de dizer NÂO, em vez de se deixar explorar psiquicamente e emocionalmente! E viver a sua plenitude apenas enquanto SER HUMANO?
 rosaleonorpedro

PARA REFLECTIR...

"O que me leva a uma pergunta especial para sua reflexão...
Você alguma vez já vislumbrou o que compõe seu eu maior?
Acho que uma mulher pode enxergar muito do seu eu profundo ao examinar algum fenômeno raro nos motivos condutores dos contos de fadas, aqueles que caracterizem nitidamente como uma mulher se torna sábia. Quando examinamos os temas nas lendas e mitos, vemos uma configuração sem paralelo, que é a seguinte: sempre que uma jovem está em situação angustiante, não é tão freqüente que um príncipe apareça, mas costuma ser, sim, uma velha sábia que se materializa como surgindo do nada, lançando sua poeira mágica ao redor e batendo no chão com sua bengala de abrunheiro. Quer essa idosa seja uma velha enrugada ou uma feiticeira com seus amuletos, quer ela seja uma mutante ou uma maga sensual, quer esteja usando trajes de ervas, vestido do brilho do pôr-do-sol, manto da meia-noite ou uniformecompleto de combate... ela é a anciã "aquela que sabe" e surge de repente para ajudar a mulher mais jovem."*

* citação de clarissa pinkola estes

AS MULHERES MAIS VELHAS...



PENSEMOS E REZEMOS...


"Por todas as mulheres mais velhas matreiras que estão aprendendo quando chegou a hora certa de dizer o que precisa ser dito e não se calar — ou calar-se quando o silêncio for mais eloquentes que as palavras. Por todas as velhas em formação, que estão aprendendo a ser gentis quando seria tão fácil ser cruel... que conseguem ver que podem cortar quando for necessário, com um corte afiado e limpo... que estão praticando a arte de dizer verdades totais com total compaixão. Por todas as que rejeitam as convenções e preferem apertar as mãos de desconhecidos, cumprimentando-os como se estivessem criado desde filhinhos e os tivessem conhecido desde sempre... por todas as que estão aprendendo a chocalhar os ossos, balançar o barco — e a cama —, além de acalmar as tempestades... por aquelas que são as guardiãs do azeite para a lâmpada, que se mantêm em silêncio no culto diário... por aquelas que os rituais, que se lembram de como fazer fogo a partir da simples pederneira... por aquelas que dizem as antigas orações, que se lembram dos símbolos, das formas, das palavras, das canções, das danças e do que no passado os ritos tinham o objectivo de instaurar... por aquelas que abençoam os outros com facilidade e frequência... por aquelas mais velhas que não têm medo — ou que têm medo — e que agem com eficácia de qualquer modo...Por elas... que vivam muito, com força e saúde, e com um imenso espírito aberto aos ventos."



clarisssa pinkola estés


terça-feira, fevereiro 21, 2012

POR UM AMOR MAIOR







QUE AMOR VIVEM AS MULHERES?



Hoje acordei a pensar em como é que a mulher viveu e suportou centenas de anos reduzida aquela imagem de si, estereotipada, inferiorizada, anulada da sua natureza interior, olhada como histérica bruxa e prostituta caso não se submetesse por inteiro as ordens e leis provenientes do patriarcado, totalmente dependente dos padres – essas aves agoirentas cínicas, misóginas e castradas – dos homens em geral e ao seu serviço, quer como esposa quer como prostituta, ou dezenas anos depois,  já no nosso tempo, mesmo depois de uma suposta liberdade, completamente subordinada e emocionalmente depende do Pai e do marido ou do amante. É para mim uma coisa impressionante e difícil hoje de aceitar.

Quedo-me verdadeiramente assombrada..

Olho para trás e penso nas histórias das minhas avós e da minha mãe...totalmente dentro dos padrões seculares e depois mais recentemente a minha irmã mais velha, sem outro horizonte que não fosse a casa o marido e a filha...e hoje, hoje mesmo, um grupo de mulheres relativamente cultas e independentes, casadas e divorciadas ou separadas ou mais velhas...mas ainda todas sujeitas às influências do Pai e dos maridos mesmo sem estarem já debaixo da sua tutela ou então subordinadas ao amor dos filhos...

Sim, mulheres novas, bem mais novas do que eu, de uma ou duas ou mesmo três gerações depois de mim, continuam a reflectir essa dependência, essa influência e agora mais grave ainda a nível culturaL de forma mais subtil e sofisticada, MAS A MESMA DEPENDÊNCIA, embora mais psicológica e sexual que mental e física, mas que vai resultar no mesmo.

Mulheres de cultura ou com formação académica… endemicamente patriarcal...têm a mesma dependência do homem que as suas avós…Mulheres activas e com profissões variadas, continuam a fazer em casa e a ter as mesmas dependências e obrigações com os maridos e mais, muitas médicas e professoras ou empregadas, são escravizadas e prisioneiras afectiva e emocionalmente de indivíduos mentalmente agressivos e dominadores que as mantêm debaixo do mesmo jugo em que avós e pais mantinham as mães. Isto para nem sequer falar da violência doméstica como é óbvio.

E nós a pensar que a sociedade mudou, que nada disto acontecia já,  mas não…E o meu espanto vai de facto para a discrepância das ditas mentalidades e das aparências sociais e depois o que as mulheres vivem na prática, dentro delas e dentro de casa e nos casamentos…mesmo homens amantes das mulheres, em casais normais, eu vejo a marca do dono…os sinais da posse e do domínio subtil do homem e a prosápia cúmplice sobre as suas mulheres ou amantes uns com os outros.

Sim, há mais razões para além das sociais e psicológicas. Há a dependência sexual pela forma como esta é veiculada nas sociedades e culturas machistas, mas também dessa forma psíquica orgânica diria, que culmina pela posse brutal do homem, pela forma abusiva como o homem usa a mulher e a mantêm ao seu dispor…Conforme as nossas avós tinham de cumprir a obrigação de esposas, hoje as mulheres continuam a ter de cumprir com as suas “funções” apenas com a diferença que antes raros ou nenhuns homens se importavam com o prazer da mulher e hoje fazem disso gáudio…é ser macho dar prazer as mulheres…e elas fingem que sim…raras o têm. Essa nova obrigação de o homem dar prazer a mulher e da mulher ter orgasmo, ao contrário do que antigamente acontecia, é manipulado pelos meios de controlo mediático, cinema e televisão e moda. A nova escravidão da Mulher passa pela sua passiva rendição a tudo o que promove a sua nova imagem…e indústrias como a L’oreal e tantas mais no mundo são indústrias milionários a conta dessa exploração de imagem de beleza e de juventude da “mulher ideal” propagada por toda a infernal engrenagem de domínio das massas principalmente da mulher…

Pensar que a própria astrologia a que as mulheres recorrem com grande premência, é feita no sentido único de encontrar o "par" marido ou do sonho do par ideal, sem sentido objectivo da individualidade,  sem ver mais nada senão esse imperativo e esquecendo-se delas mesmas.  
E eu fico espantada com mulheres incríveis e capazes se sujeitam a esquemas doentios e dolorosos, perdendo até toda a sua dignidade, mas vivendo-os como “normais” só para realizarem esse sonho… ou esse “programa celular”? …

E é aí que entramos no domínio do biológico…no domínio de algo que a ciência humana e a medicina não estão interessadas em saber nem em pesquisar e se não fossem as tradições xamânicas e outras e o conhecimento esotérico, ninguém suspeitaria que por detrás desse domínio existe um imperativo mais perigoso e ardiloso, e mais poderoso que faz com que as mulheres sejam vampirizadas sexualmente pelo predador homem e sexualmente exploradas em todas as frentes de forma invisível e incontornável a não ser pela atitude de recusa consciente e deliberada da mulher em evitá-lo, recusando ser cativa e presa de um destino inexorável de que ainda desconhece as causas; mas há muito lhe sofre as consequências de forma horrível e extremamente dolorosa, em termos mesmo de um certo holocausto como o foi a “caça as bruxas” na Idade Média.

Essa “caça” hoje é sofisticadíssimae os perigos maiores do que ela sonha…estão nos químicos, nos comprimidos, nos anticoncepcionais, os de dias antes ou depois, nas quimioterapias, nas terapias “preventivas” e nos hospitais, nas operações e torturas a que se submete manipulada pelos média…e a mulher, vitima inocente é o alvo de uma macabra guerra biológica…contra a sua génese, o seu poder intrínseco.

Eu não estou a julgar essas mulheres de ânimo leve… mas apenas a constatar factos óbvios para quem quiser ou poder ver. Sem dúvida que eu posso ter sido uma excepção ou uma das raras mulheres que existam da minha geração, que não se submeteram a essa exploração/domínio, e que, para além de nunca ter tomada nada “preventivo” houve situações concretas e específicas da minha vida que me ajudaram a superar essa dependência a vários níveis …e a não cair no domínio dos homens, da sexualidade, fosse ela qual fosse, mas isso fi-lo através de um longo Caminho Interior e de uma Consciência do SER que também era do meu Ser enquanto Mulher. O que inicialmente parecia um “desvio” do meu destino, e um sofrimento por não me enquadrar no modelo exigido pela sociedade, foi a vitória sobre essa subjugação “amorosa”, sobre esse modelo cujo padrão arcaico é renovado e hoje considerado “moderno”. Não só me libertei desse imperativo do sexo como me libertei de qualquer padrão vinculativo e redutor do meu ser como Mulher. E isso posso hoje afirmá-lo com clareza e consciência plena de que o meu destino era decerto UM AMOR MAIOR: Título do quase poema juvenil e conforme intui quando tinha apenas vinte poucos anos e publiquei uma pequena crónica num jornal local ou já nem me lembro se num suplemento juvenil do Diário de Notícias, há mais de 40 anos…e no qual também ganhei um prémio “literário”…depois disso, não ganhei mais nada… a não ser a mim própria…e esse é o meu único sucesso “literário” espiritual e humano.


rlp




segunda-feira, fevereiro 20, 2012

A mulher – conhecimento/sabedoria


..."Chegarei mesmo a dizer que, nesta evolução do conhecimento, a mulher leva vantagem, mas não sei se ela sabe disso. "*

Não efectivamente a mulher não sabe disso. Não só não sabe como nem suspeita...porque o que a história dos homens lhe contou foi o inverso, toda a informação lhe foi dada do avesso tal como se inverteu toda a informação original da Génese..."A mulher já tem nela as infrastruturas para criar o ser inteiro. Falta-lhe justamente o impulso criador. Na Bíblia, o episódio da costela de Adão apresenta as coisas de maneira inversa."
O que nós agora temos de compreender como mulheres é que ao dar-se essa inversão de valores e de proncípios, isso criou uma cisão na mulher que a levou à diminuição do seu potencial e ao esquecimento do seu poder interno, tendo essa inversão sido a causa da divisão da mulher em duas - a santa e a pecadora. O que as religiões fizeram foi manter a mulher cindida em dois esteriótipos para que ela não tivesse acesso ao seu próprio potencial e assim, mulher e homem se manteriam escravizados, presos da matriz de controlo que mantem a humanidade prisioneira de um nível inferior ao que era suposto segundo a evolução da Espécie.

AS DUAS ÍSIS…

 (…)

“A busca da verdade é também a busca do outro. Essa questão toca bem claramente o problema da dualidade masculino/feminino, dia/noite….Quando essa dualidade é dominada, leva a um outro nível de consciência, tal como é expresso na grelha integrada. A mulher – conhecimento/sabedoria – tem um substrato de facto, enquanto o homem precisa partir sem demora em busca de si mesmo. A mulher é para ele uma iniciação ao progresso, um catalisador do futuro. Nesse sentido a mulher parece ter vantagem em relação ao homem.

 As duas buscas de Ísis demonstram muitas facetas dessas vantagens. Considerando Osíris como o representante do homem mítico a construir, vemos que ele precisa a toda a hora de ser reconstruído. Os catorze pedaços são catorze centros energéticos e esses mesmos centros foram escolhidos para nomear províncias do Egipto, os nomes. O corpo decepado do deus vivo que se tornará deus morto. É o fio invisível que assegura a continuidade ao longo da alternância vida/morte. É também o símbolo do grão que morre no solo para renascer em outro ser. Cada grão de Osíris estava ligado a uma província do Egipto. Ísis não encontrou o sexo, engolido por um peixe. Não existe província ligada ao sexo. Esse facto evoca outras ideias que encontramos em muitas religiões – reveladas ou não -, a de que o deus fundador foi concebido sem reprodução sexuada. O segundo aspecto está ligado ao facto de que são as mulheres que concebem. As mulheres são MA e o AM. A primeira matéria realizada seria a da mulher.

Existem tipos de fecundação em que podemos questionar qual é o verdadeiro papel do macho. Em certas fêmeas, o espermatozóide só traz um sistema de forças criador, apenas um stresse para o óvulo. Não existiria transmissão de património genético proveniente do macho, enquanto as recombinações genéticas teriam lugar unicamente no material genético proveniente da fêmea. A mulher já tem nela as infrastruturas para criar o ser inteiro. Falta-lhe justamente o impulso criador. Na Bíblia, o episódio da costela de Adão apresenta as coisas de maneira inversa.

Com a linguagem vibratória, a tradução da mulher dá a letra Z. E a constela de Adão seria a letra Z, que significa responsabilidade. Ora, a letra Z pertence ao mundo transcendental. A mulher já é portadora do mundo transcendental (A Virgem maria, Ísis, as virgens negras etc.). O homem, em contacto com a mulher, teria acesso ao germe da iluminação. E o casal alquímico exteriorizaria isso.

(…)
Chegarei mesmo a dizer que, nesta evolução do conhecimento, a mulher leva vantagem, mas não sei se ela sabe disso. Ainda mais que na situação actual ela se choca com o poder do homem. Sejamos claros: constitutivamente não existem relações de superioridade ou de inferioridade entre o homem e a mulher. Tudo depende do contexto sócio-cultural da época considerada cujas consequências extremas se manifestam nas sociedades do tipo patriarcal e matriarcal. O facto principal que se expressa no caso ideal é a complementaridade da infra-estruturas constitutivas de cada um…O resultado no mais alto nível vibratório de tal complementaridade é a fusas integral dos duplos que se traduz por um alargamento prodigioso do campo de consciência do casal alquímico. Trata-se de um verdadeiro processo de transcendência cujas consequências são múltiplas, principalmente transformações profundas e duráveis de cada um dos componentes do casal. Penso mesmo que esse estado ideal e final do casal alquímico, caracterizado pela fusão dos duplos, continua após a morte física. Mas atenção: eu não digo que tal resultado do casal alquímico seja verdadeiramente realizável.” *
(…) 
*Etienne Guille
in O homem entre o Céu e a Terra

NAS ASAS DE MAAT...


A MULHER REALIZADA
 
 
 ..."A mulher tem em si a sabedoria, um tipo de sabedoria inata, um catalizador único da realização. (...) A mulher potencialemnte está directamente ligada ao conhecimento e a sabedoria, que são as duas forças complementares da grelha de base.* A mulher realizada domina a dualidade e ajuda o homem a transcendê-la. Enquanto o homem tem acesso ao conhecimento que está no início de tudo e além disso da vontade."
 
Etienne Guille in O HOMEM ENTRE A TERRA E O CÉU
 
 
A MULHER COMO CHAVE DA TERRA
 
A Terrra tem saída sim, quando cada mulher souber quem é e for fiel a sua essência de MAter e MAtriz. A dualidade na manifestação (Materia-energia) que se manifesta nos opostos (complementares e não antagónicos) tem um meio de ser integrada... ao meio, ao centro, dentro de cada ser humanno, mas cada ser humano precisa de ter consciência de si para além dessa dualidade, mal e bem, macho e fêmea, ao nívil psiquico, anímico e espiritual, o que não têm, separando e dividindo tudo.
A espiritualidade, digo a religião muito particularmente, é o pretenso meio de se atingir isso...mas apontando para algures e não para dentro do indivíduo...Essa não é a proposta. Ora aí é que está o erro. Ou o "pecado".
O Ser Humano pode atingir essa consciência da Consciência dentro de si se se elevar equilibradamente - quer dizer mantendo os pratos... da Balança (Justiça e verdade - Maat) ao mesmo nível. Ora essa Conciência do SER EM SI  não se faz sem que a Mulher seja respeitada e elevada a sua condição de mediadora das forças cósmico/telúricas. No entanto essa mulher realizada do início foi através da difusão da ideia/ religião/cultura de mal associado à mulher, atingida no seu cerne e dividida ao meio, impedida assim de ser o instrumento de realização do homem também.  Todo o drama desta humanidade passa pela separação e o mais grave pela divisão intrínseca na Mulher. Ao dividir-se a mulher em dois arquétipos, como nomeadamente a religião católica fez, a mulher cindida ("a virgem e a pecadora" - uma mulher em casa e a outra no prostíbulo) a mulher verdadeira integral deixou de existir em si, como indivíduo, para se tornar mera escrava do homem (este mero escravo do trabalho), das funções reprodutores e do seu prazer e assim a mulher ainda é brutal ou sofisticadamente tratada nos nossos dias neste mundo...
Escamotear isto é querer continuar na mais pura ignorância e alimentar o caos da nossas sociedades.

rlp
* grelha de base (grosso modo: uma base energética da constituição do universo/ser humano)

sexta-feira, fevereiro 17, 2012

A IMPORTÂNCIA DO AFECTO




UMA reflexão emocional...

(…)
"O afeto diz respeito essencialmente à fenomenologia e a emoção diz respeito à fenomenologia ou à psicologia. Se eu retornar a essa questão, vou sem dúvida abordá-la a partir da clivagem traumática, (…): clivagem onde está em jogo uma tentativa de destruir a "parte sensível"; portanto essa destruição apoia-se numa estratégia de negação, que é cúmplice da delimitação de um campo intelectual. É sobretudo nesse contexto que encontro a questão do afeto no trabalho clínico: a aparente insensibilidade após a evocação de experiências intoleráveis. Portanto é o afeto abortado, enterrado, mais do que o afeto se manifestando na emoção, que me interessa essencialmente. Não obstante, a estrutura emocional será encontrada no seio do trabalho que o afeto anestesiado efetua na tentativa de reavivar-se, graças às condições trazidas pela escuta. “
- M. Schneider - Psicanalista

Todos estes aspectos correlacionados com a psicanálise, como forma de abordagem do trauma e sofrimento do ser humano e a sua cura, nos mostram a falta de relação com os aspectos fundamentais da vivência da pessoa, neste caso a mãe,  porque sem qualquer conhecimento de causa da sua possível origem, remontando aos fundamentos da vida humana e a representatividade da Mãe como fonte inicial de afecto e amor e base emocional de toda a estrura mental e psicológica do ser humano. Justamente a partir dessa falta, que é a negação histórica e cultural do princípio feminino e do valor intrínseco da mulher, quer como mulher em si  quer como mãe, que reflecte obviamente a falta de confiança das mulheres em si mesmas como mulheres e enquanto mães, e portanto na educação da criança também. Uma mulher que é fragmentada e amputada de parte de si precisamente a parte que representa como sensível, deixa de o ser para se tornar, vítima de experiências intoleráveis, e incapacitada para manifestar a sua natureza própria!
Daí a insensibilidade e a negação do afecto, que leva como consequência à doença à neurose à psicose…à violência e ao crime!
Este trecho mostra ainda a alienação da mulher académica da sua própria natureza ontológica e vemos até que ponto as mulheres, mesmo as psicanalistas conceituadas se baseiam na análise, no positivismo e no pensamento cartesiano e portanto o quão longe estão dessa essência da mulher e do seu papel na formação de um novo ser. Como desconhecem que o ser mulher representa exactamente a parte sensível da humaniade, a parte emocional do ser e a sua dimensão espiritual...e que ao ser violentada na sua essência isso recai directamente sobre a sociedade.
Isto mostra o quão redutora é a psicanálise e a ciência ao separar os vários aspectos do ser...
“O afeto diz respeito essencialmente à fenomenologia e a emoção diz respeito à fenomenologia ou à psicologia.” A autora coloca assim, o afecto e a emoção em campos diferentes….e vê o afecto ligado essencialmente à fenomenologia e a emoção mais à psicologia…Vemos neste excerto (de uma entrevista feita à autora) que a questão da emoção e afecto para ela se situa entre a psicologia e a filosofia…portanto ao nível da análise e da mente.

Começa de facto em crianças, a destruição da parte sensível nos homens e mulheres...
Essa destruição na verdade começa na "educação" da mulher impedida de ter acesso a sua essência e à impossibilidade de ser um indivíduo, transformada ou condenada a ser esposa e mãe, sempre em detrimento da sua afirmação como pessoa e indíviduo...e quando o ousa ou consegue é condenada de outra forma, mais redutora ainda ou violenta como é o caso da mulher livre que não se submete a um só homem por contracto (o casamento) e acaba como prostituta...
A sociedade paternalista e patriarcal coloca a mulher num papel exclusivamente de servir o homem e a família e a sociedade por acréscimo, sem a considerar como pessoa antes. A mulher, toda a mulher é condicionada, muito mais do que o homem, a servir como suporte do lar e da família e enquanto o homem produz (trabalha como escravo) ela procria e cuida dos filhos; mais do que isto, hoje em dia, as mulheres são enganadas, com as suas famosas conquistas de suposta liberdade, que são afinal de contas apenas mais  o acréscimo de ter de serem ainda a trabalhadora e também sustentar a casa e a ama ou a creche e ainda manequim...sempre em função de uma função sexual/prazer/reprodução/produção...
Em suma, uma Mulher que não se ama, que não se sente respeitada, que não conhece a sua identidade, que não têm uma individualidade, NÃO PODE TER AMOR NEM DAR AFECTO...

Talvez pareça muito complexa a questão aos olhos do psicanalista ou do cientista que disseca e separa as coisas e os factos, mas o que realmente traumatiza e fere o indivíduo e o priva de afecto, à partida é o ataque à sua integridade desde que ele nasce, e o que mais o marca é sem dúvida a ausência do afecto de uma mãe confiante e equilibrada, uma mãe amada…uma mãe enquanto suporte e fonte de equilíbrio emocional. Ora se a mãe é ferida na sua essência, coarctada desde que nasce na sua liberdade de ser quem é, de se  expressar enquanto ser independente, permanecendo subalterna do homem e a ele subjugada, em quase todas as sociedades, não pode na maior parte dos casos ser boa mãe ou garantir uma emocionalidade normal à criança… "Portanto é o afeto abortado, enterrado, ” na mulher primeiro, através dessas “experiências intoleráveis” e não podendo dar o seu afecto à criança, acaba por ser a criança quem paga todo o seu desamor e frustração emocional…. e assim a sociedade patriarcal, que, ao renegar os valores do feminino gerou uma sociedade de seres traumatizados porque sem mãe e sem afecto genuino… e serão elas por sua vez como vítimas dessas “experiências intoleráveis” que as vão propagando assim de pais para filhos…até que um novo paradigma substitua este velho e violento paradigma das sociedades falocráticas, que vê nas armas e na violência a forma de se vingar da sua falta de afecto, auto-estima e amor…
Sem Mãe a sociedade está votada ao declínio e foi isso que o poder falocrático conseguiu no mundo ao impor um Deus Pai e anular a Deusa Mãe e o feminino por completo.
rlp (2008)

quarta-feira, fevereiro 15, 2012

só isto



" O Belo é isso que me tocou quando eu ainda aí não estava" 

J.F. Lyotard

Hoje só isto e por causa disto só...tudo mudou...por causa de uma pena apenas a minha alma voou ...

segunda-feira, fevereiro 13, 2012

E todos os dias, a morte...




 Whitney Houston - I Will Always Love You - Lyrics ...


Eu vou chocar-vos mais uma vez...a morte deste ícone do nosso tempo, de uma "estrela" americana, não me diz nada... Nem quando morreu a Amy House ou  qualquer outro fenómeno da música ou do teatro da vida, usadas e exploradas até na morte…me tocou particularmente...


Mas esta mulher com uma voz única, e um corpo magnífico, linda, com todo o potencial, com dinheiro e fama, serve de exemplo para vermos como ela foi vencida pelo domínio de um "amor" mesquinho, pela posse brutal de um homem e, tal como ela se confessou, viciada em ”fazer amor"…e que a levou da obsessão do homem ao ópio, ao álcool ou a qualquer outra droga, como os químicos...Sim, serve para vermos como, sofrida com esse monstro que a maltratou e ela se desprezou, isso a leva após a separação a todos os excessos que acabaram por a matar...

E nem esta mulher foi uma Mulher Inteira e menos ainda uma Deusa, como alguém disse por aqui, mas apenas uma mulher totalmente desorientada, sem saber de si própria, como milhares de mulheres no fundo que vivem à superfície do seu ser e ao sabor da corrente, com ou sem fama, com ou sem dinheiro.

Sim, esta mulher sem centro, sem self, esta mulher sem consciência dela mesma, foi apenas mais uma mulher fantoche neste mundo de fama e de comércio, de palcos e de mentiras, de ego e de aparência...esta mulher foi apenas mais uma mulher vítima do sistema abominável que faz da mulher um símbolo e uma imagem, mas que lhe rouba a alma, a identidade, lhe rouba a individualidade, lhe rouba a vida própria e até a vida...e temos ainda na memória Marilyn Monroe…e tantas outras que já esquecemos…

Neste caso, falamos da  morte da cantora com espanto, com pena, e até com uma espécie de “inveja” (ai se fosse eu…não teria sido assim) porque caímos na tentação de achar que ela foi o máximo e a sua vida um expoente de fama e dinheiro e homens bonitos...porque todas nós passamos a vida a sonhar com o Kevin Coster da nossa vida…e estamos apenas a embalar e a cair na mentira e na farsa de Hollywood...

Não, não tenho pena nem sinto nada... senão a mesma dor imensa, vastíssima de saber que houve e há MILHARES DE MULHERES QUE VIVEM ASSIM, COM MAIS OU MENOS DINHEIRO, MAIS OU MENOS FAMA MAIS OU MENOS AMANTES, MAS AFINAL vivem todas o mesmo vazio, o mesmo desnorte...sem nunca saberem quem realmente são…

Pensam que sou cruel? Que não tenho sentimentos? Não, apenas não me deixo enganar nesta mise en cene da morte de vedetas famosas, nem na exploração da sua morte para vender mais discos e sem qualquer respeito pela vida humana; toda esta avalanche de notícias da sua morte  são apenas os Media, como abutres, que  se aproveitam da  morte trágica de uma mulher ainda jovens para aumentar audiências...

E a verdade é que também já há muitos anos que não caio em farsas nem em cultos estéreis de artistas e porque como é óbvio, via e vejo muito bem como a sua magnífica voz apenas nos levava e leva a todas na ilusão máxima do amor romântico... Todas as mulheres embaladas por esta música… I Will Always Love You… no sonho perpetrado de  amor infinito de um homem e que na realidade e neste caso, a maltratava, e que por sua causa ela acaba por se deixar morrer destruindo a sua vida...

Sim, tal como tantas outras mulheres anónimas que morreram hoje... à mesma hora, abandonadas ou desprezadas no mundo inteiro, ou violadas em aldeias ou nas cidades,  na guerra e na miséria...e ninguém pensa ou fala delas.

 rlp

PS E desejo Paz à sua alma, como nunca a teve em vida...

sábado, fevereiro 11, 2012

A ESPIRITUALIDADE NO FEMININO



A Sabedoria associada a Mulher...


Nu Kua - UMA MÃE CÓSMICA


"Deusa na mitologia da China que criou a humanidade. Muito poderosa, metade humana e metade serpente. Ela é associada à chuva, poças de àgua, lagoas, lagos e outros lugares onde as àguas param e são populadas por criaturas Anfíbio e peixes.

Há cerca de seis ou sete mil anos havia um mito universal de que todos os seres eram provenientes do Útero de uma Mãe Cósmica; tal mito da criação universal teve lugar durante uma fase informe do mundo, aonde nada podia ainda ser identificado. Inicialmente cultuada na Índia, como Kali, a Mãe Informe, recebeu depois o nome de Tiamat (Babilônia), Nu Kua (China), Temut (Egito), Têmis (Grécia pré-helênica) e Tehom (Síria e Canaã) --este último foi o termo usado mais tarde pelos escritores bíblicos para Abismo." (...)

Assim era nos primórdios..

"Há igualmente grandes evidências de que a espiritualidade, e em particular a visão espiritual característica de sábios videntes, já foi associada à mulher. Nos registros arqueológicos mesopotâmicos soubemos que Ishtar da Babilônia, sucessora de Innana, ainda era conhecida como a Senhora da Visão, Aquela que Orienta os Oráculos, e a Profetisa de Kua. As tábuas babilônicas contêm numerosas referências a sacerdotisas que oferecem conselhos proféticos nos santuários de Ishtar, algumas das quais são importantes nos registros de eventos políticos. Sabemos, através dos registros egípcios, que a representação de uma naja era o sinal hieroglífico para a palavra Deusa e que a naja era conhecida como o Olho, uzait, símbolo de compreensão e sabedoria místicas. A Deus...a naja conhecida como Ua Zit era a deidade feminina do baixo Egito (norte) em tempos pré-dinásticos. Posteriormente, tanto a Deusa Hathor quanto Maat ainda eram conhecidas como o Olho. O uraeus, uma serpente empinada, é encontrada com freqüência sobre as frontes da realeza egípcia. Além disso, um santuário profético, possivelmente sítio de um antigo santuário à Deusa Ua Zit, elevava-se na cidade egípcia Per Uto, que os gregos chamavam Buto, nome grego para a própria Deusa naja.
O famoso santuário oracular de Delfos também se elevava em um sítio originalmente identificado com o culto da Deusa. E mesmo em épocas gregas clássicas, após ter sido dominado pelo culto a Apolo, o oráculo ainda falava através dos lábios de uma mulher. Ela era uma sacerdotisa chamada Pítia, a qual se sentava sobre um mocho trípode em tomo do qual havia uma serpente chamada Píton enroscada. Lemos ainda em Ésquilo que nesse templo, que era o mais sagrado, a Deusa era venerada como a profetisa primeva. Outra vez sugere-se que mesmo na idade clássica grega a tradição de uma sociedade de parceria em busca da revelação divina e da sabedoria profética através das mulheres ainda não fora esquecida."


IN O Cálice e a Espade - Riane Eisler

sexta-feira, fevereiro 10, 2012

QUE PARTE É A MULHER NO TODO?


A importância da Intuição ser... Mulher...


DA ALMA  E DO CORAÇÃO...

"Quando a alma está "entronizada" (como dizem os livros orientais) na cabeça, atrai para cima, sobre si, pelo poder de seu próprio magnetismo, a força latente na base da coluna vertebral. Assim se produz a completa fusão da energia espiritual e da força da própria matéria por meio da energia atractiva da alma. Isto é o que significa quando se fala do despertar do poder kundalínico, e deve ocorrer pelo magnetismo da alma dominante e não pela meditação sobre qualquer centro específico, nem pela ação consciente sobre a força da matéria.

A energia da alma do centro sacro deve ser levada ao mais alto centro criativo, o laríngeo. Então, dar-se-á ênfase ao trabalho criativo levado a cabo pelo bem do grupo e não à vida sexual activa da pessoa em questão.

A energia do centro do plexo solar deve ser, de modo análogo, transferida e levada ao coração e, assim, a consciência não fica mais autocentrada nem puramente egoísta, mas o homem se torna consciente do grupo e inclusivo em suas atitudes para com as pessoas e a vida. Não fica mais antagónico nem excludente. Sabe e compreende. Tem piedade, ama e serve. Temos, aqui, um amplo campo de investigação, uma vez que se capta a relação entre um centro e outro, e entre os centros e as glândulas. Os efeitos, tanto fisiológicos como psíquicos, merecem um estudo mais detalhado."*

* alice bailay - a alma e o seu mecanismo

terça-feira, fevereiro 07, 2012

Da importância de destinguir as coisas....



O FEMININO SAGRADO PARA LÁ DOS SEXOS...
E DA SUA COMPLEMENTARIDADE...

Acordei a pensar que eu sou aparentemente muito radical, sobretudo quando escrevo e que quando as pessoas me conhecem pessoalmente ficam espantadas de eu estar sempre a sorrir para elas...É verdade que sorrio e que escuto e sinto e tenho essa inteira disponibilidade para as pessoas ao vivo. Passa-se que ao escrever não há interlocutor e o pensamento corre no sentido lógico e muitas vezes corta a direito.

Mas o que eu queria escrever hoje não era sobre mim...e era.

Queria dizer-vos uma coisa que eu acho que é muito importante destinguir. 

As mulheres costumam a todo o transe defender qualquer questão relacionada com o feminino em função do homem...ou do par. Elas mantêm sempre esse foco mesmo em nome de uma suposta nova abordagem do feminnino ou do feminino sagrado...Nõa só defendem o homem como  qualquer texto mais simpático de um homem "feminista" como alguns se intitulam,  elas ficam muito felizes e nem percebem como existe de facto é um novo  machismo...ou um neo-machismo (A.C.)(Voltaremos a esta questão em breve).
Este texto surge então  a propósito das mulheres estarem sempre a defender os homens, mais do que a si mesmas...e daí vem toda aquela questão do feminino e masculino e que é preciso integrar os dois e que cada sexo tem os dois lados e que a complementaridade é que é correcta e por isso não se conseguem dissociar do homem...

Muito bem, esse raciocínio e essa ideia está certíssima, sempre esteve e não é nada nova...as abordagem espirituais em geral todas elas a fazem e defendem. A Alquimia a mais explicita, de um certo modo, pelas gravuras do rei e da rainha - mas qual mulher qual quê? Até a religião católica que nada ou pouco tem a ver com o cristianismo original, o da Gnose e da Sophia...também o diz. Mas os orientais fazem isso melhor, nomeadamente os indianos, com a Shakti como os judeus com a Shekina...

Nós todas conhecemos isso, as mais velhas e as mais novas...Nós não inventamos o yin nem yang, nem fomos nós que descobrimos as polaridades nem fomos nós que agora vamos fazer alguma coisa mudar...a não ser que...

Vamos lá ver então qual é o problema...se isso é tão velho como o tempo e a par disso até temos a "mais velha profissão do mundo" a começar pela Bíblia e em tempos mais recuados também as chamadas erroneamente "prostitutas sagradas" (porque se eram sagradas e o sexo também e serviam a Deusa do Amor, não havia prostituição, mas consagração a Deusa...), como é que as Mulheres são hoje tratadas e sempre foram e porque persiste essa cisão na mulher, essa separação das "duas" mulheres e as mulheres estão em estado inferioridade, subalternidade, de exploração e até escravidão ainda no mundo?

Ninguém quer pensar comigo?

Como é que isto se mantém se toda a gente sabe das polaridades e da igualdade dos sexos e da integração dos opostos etc.

Porque é que não há essa integração?

Porque continuam as mulheres umas contra as outras e porque continuam a aceitar que a outra mulher tenha de se prostituir enquanto ela defende o seu par o seu homem ou o seu filho...sendo que qualquer um deles mais a frente até vai a essa " prostituta " (e até pode ser a melhor amiga...) e que a digna esposa ou filha trata abaixo de cão...e a acusa de todos os males, mas nunca o sistema, não a miséria, não a falta de valor da mulher em si nestas sociedade e se vira simplesmente e odeia a outra mulher? Digam-me como? Como é que se convive com isto? Intelectuais, escritoras, médicas psicólogas, estudiosas, feministas e até espiritualistas?

E agora nós, em Nome do feminino sagrado continuamos na mesma?

Em nome da Deusa fazemos a mesma coisa?

Defendemos o homem e o filho e o nosso caso ou o nosso amado?

Que filme é este? Sim, é um DEJÁ VU...

Ou pensavam que eu não sabia a história dos pólos complementares, que não vivi as minhas histórias e não defendi o meu par e não acusei a rival? Como é que pensam que eu não sabia eu do yin e do yang etc? Por amor da deusa poupem-me...

Então as meninas e as senhoras NÃO QUEREM VER A CISÃO, querem em vez disso e  como os nossos defensores homens BRANQUEAR toda a questão da cisão da mulher? Não querem vê-la em cada uma de vocês e em cada mulher, não querem considerar até que ponto essa cisão nos divide e nos mata (de doenças) e separa todas e nos faz tanto mal? Não querem ver QUE ANTES DE DOS COMPLEMENTOS FEMININO E MASCULINO O YIN E O YANG A MULHER TEM DE INTEGRAR A SUA SOMBRA, A SUA OUTRA ELA, a sua outra metade, a mulher que foi ocultada e denegrida pelas religiões...e VOLTAR a ser una e íntegra, ser um indivíduo e não um apêndice e uma função procriadora ou de gozo? Que diferença faz a mulher dar gozo ao homem e não ter gozo e agora por a ênfase no seu prazer e achar que chegou a algum lado e continuar a ser apenas objecto de prazer e corpo para vender ou alugar... (barriga de aluguer).

Queremos ser coniventes com isto tudo?

Ou queremos ver que esta questão que abordamos é uma base de crescimento e sem a qual tudo continua na mesma e que por isso existe tanto empenho, tanto cuidado em não nos dispersarmos, em não nos afastarmos do tema, em não nos deixarmos iludir pelo novo neo-machismo que é virtuoso e até defende as mulher e que são os próprios homens, muito femininos, e com anima que nos vem dizer..."afinal vocês têm sido umas mazinhas...e devem nos pedir perdão...nós até somos bacanos, nós perdoamos...e estamos a vosso lado?"

De que lado afinal e do lado de qual Mulher?


Sim, de que Feminino Sagrado estamos nós a falar?


Do casal sagrado?


Da mulher que se subestimava e era frígida e agora se orgulha de fazer tantra e ter orgasmos?

Por favor...Vamos lá por as coisas no lugar. É verdade que eu já não tenho nenhum interesse no orgasmo nem no tantra (nesse tipo e "tantra") e estou numa de viver a toda a minha chama no coração, sim estou numa de CORAÇÃO ARDENTE e não me interessa já o par...e que isso não é obstáculo ao Saber nem a ao AMOR. E que não estou contra a natureza das coisas, nem da vida, nem tenho nada com as vossas vivências particulares, mas apenas me distingue de vocês talvez por UM FOCO particular que para mim é ESSENCIAL e trata-se a muitos níveis de unir a Deusa da Terra com a Deusa do Céu...Unir Maria Madalena e Maria, assim como unir a Mulher das profundezas com a Mulher da superfície? A mulher Útero e a mulher Anima? Pois a Mulher de superfície não conhece uma nem a outra...Ela ainda não EXISTE...

Será que não me entendem?

Ou não querem perceber?

*

Rosa Leonor Pedro

segunda-feira, fevereiro 06, 2012

Alguns escritores disseram verdades inalienáveis...

das mulheres...

“Não pertencemos a nós próprias. Não somos pessoas, somos coisas. Ocupamos o primeiro lugar no seu amor-próprio, o ultimo na sua estima. “ + Alexandre Dumas A Dama das Camélias

“Como se fosse a ideia de algum homem! Como se eu existisse porum homem ter de mim uma ideia”. +* D.H. Lawrence , The Rainbow

É exactamente assim que tem acontecido. O homem inventou e escreveu descreveu uma mulher e durante centenas de anos a mulher não tem feito outra coisa senão tentar corresponder a essa ideia e imagem.  São centenas de anos de cultura literatudra e psicologia em que o homem procurou moldar a mulher e interpretá-la de acordo com uma ideia, de acordo com uma imagem, sempre fugindo a mulher essencial a mulher ctónica, a mulher original...de que tem medo! De tal modo a Arte e a Literuratura modelaram uma ideia da mulher que a mulher de hoje sofre directamente na pela as consequências, de nunca se ter dito a ela mesma, de nunca ou raramente ter funcionado sem ser em função do amor do homem, do filho e do pai, que a quer à sua imagem e semelhança, digo à semelhança da sua ideia dela...Desde a Génese...
Houve escritoras que tentaram romper essa barreira de silêncio e opressão, houve. E as mulheres (as feministas) conseguiram "direitos e igualdades" relativos...há por aí uma mulher social que se crê livre e emancipada mas quando olhamos para o seu ser interior...o que vemos são fragmentos de mulheres divididas e cindidas em luta com elas mesmas, ao peso das suas múltiplas doenças, sem se interrogram, viradas  umas contra as outras, as suas eternas  rivais...Com essa suposta igualdade de direitos... foram ainda mais sobrecarregadas de tarefas e mais tarefas. Acrescentaram-lhe as profissionais sem lhes tirar o fardo da casa...Sim, elas chegaram a ministras e deputadas...mas a cisão continua  lá e a mulher que se julga livre não vê nem olha a sua parte (irmã) prostituta a ser explorada e morta como na barbárie...e aceita isso na condição de ela continua a ser considerada livre e vende a sua dignidade e a sua integridade...sim, vende-se quando deixa a sua imagem continuar a ser profanada e usada para o prazer do homem e para o comércio sexual e pornográfico. E ela aceita isso porque não é ela...mas a "outra" que se vende...e por vontade própria (como se a outra coitada tivesse vontade própria) e ela não vê que foi assim dividida, entre a santa e a puta...para rimar...
A prostituição para mim é igual à escravidão do homem.
E se a Humanidade acha que chegou a um patamar de evolução ou de civilização porque aboliu a escravatura ele não ABOLIU A ESCRAVATURA DA MULHER (AO SEXO) para os servir ...bem pelo contrário. Esta sociedade, este Sistema, fomenta e cultua ainda a degradação do corpo da Mulher Mãe, da Mulher Amante... e depois reclama que não há educação...e a juventude está   incontrolável...

TRÊS ANDAMENTOS...

 
TRÊS ANDAMENTOS, três momentos...

"A veces me pregunto si estas defensas del género masculino por parte de las mujeres no esconde la angustia patriarcal que nos han metido que una mujer no es nada si no tiene una relación..."
ana cortiñas


I

QUE MULHER?

"O eu feminino existe muito mais intensamente nos homens: foi catalogado por Jung como anima. A mulher tem o animus, que é um cara muito chato..."

Resposta a um amigo sempre provocador…

A mulher é a Anima e não o animus e foi aí que o Jung se enganou. Ela espelha a anima para o homem e só depois ele a reconhece em si embora lá estando e vice-versa. ...o problema de Jung  é que ele não viu a divisão intrínseca da mulher (a Virgem e a Maria Madalena) e só viu o seu masculino animus (pudera, a mulher essência, a anima, não está lá) e assim, sendo ele muito feminino, só viu o que pode...mas em certa medida ele está certo, porque os opostos se integram, e casam e diria, invertem: (no bom sentido...) o interior de um é feminino e do outro que é a outra,  é masculino, mas só quando a mulher for completa e chegar a sua individualidade. Atenção… Não digo indiduação...isso é outra cosia. Digo apenas que a mulher é rara...o que é a mulher verdadeira?  Nem o homem nem a mulher sabem como é...ela foi enterrada nos escombros de uma memória antiga, de uma civilização (do Cálice) destruída pela Espada e o que restou dessa mulher sublime e de dom, foi queimada nas fogueiras da inquisição na Idade Média...

Ninguém sabe quem é essa mulher antes de esta divisão começar. E esta divisão não começou entre homem e mulher nem na guerra dos sexos...começou antes e isto é só consequência da sua divisão interna...falta ao homem conhecer a Mulher inteira...e falta à mulher saber quem é... conhecer-se a si mesma - e isto note-se,  também não tem nada a ver com o (Self) Espírito ainda…só com a Alma, a ANIMA  e com a Psique…

II

Há uma questão gritante para mim que é ver como as mulheres reagem quando se lhes pede que se olhem, nem que seja por uns dias, como mulheres apenas e em si sem ser logo a pensar no par, sempre em comparação com o homem ou outras mulheres, nem conseguem ver-se em si sem ser em relação com as suas funções de mãe de esposas ou de amantes...Elas não conseguem...elas correm logo atrás do homem coitadinho (do filho do amante do marido do pai) a defendê-los como se lhes estivessemos a tirar o seu sentido de vida...e aí se vê claramente que a mulher não se sabe relacionar consigo mesma sòzinha e sem ninguém...e ver-se como um indivíduo apenas, um SER INTEIRO...ela não compreende isso...

 Ela não consegue OLHAR-SE a si mesma e pensar QUEM SOU EU?

Ela pensa sempre eu sou a Mãe e a Mulher do homem...é tudo!

E aí está a diferença entre um homem e uma mulher. Um homem olha para ele e vê-se a si como indivíduo e diz...eu sou Eu...vivo em mim... e só depois é que pensa na amante ou na filha ou na amante...A mulher não vive em si porque o seu vazio é total e ela é obrigada a pensar que ela só é enchida pelo filho na barriga (também vazia) ou então pelo falo...
O homem pode viver sozinho, e ser alguém. A mulher não. Ela não é ninguém se não for a esposa ou a mãe ou a filha do papá...
Essa é uma grande diferença...entre outras.

III

 Vejam bem...

O que é a "conversa de mulheres? "assuntos de mulher", "questões femininas" o "mundo da mulher" em todos os canais televisivos, no cinema e nos media etc e mesmo em “bons” livros?
Tudo o que concerne a relação da mulher com o homem o filho a casa a beleza a gravidez a celulite...o trabalho,  a moda os cremes a culinária, etc.
NADA QUE LHE DIGA RESPEITO A SI MESMA, PORTANTO...
Por isso jamais a mulher pensaria falar dela...subjectivamente...da sua existência, da sua individualidade que não a tem, mas sim e apenas do drama com o marido o amante o filho a empregada ou o emprego e sempre no exterior...jamais de si...ou raramente...mas com um enorme complexo de culpa ou ainda se for de uma doença fatal...
O cancro...o doença fatal das mulheres...porquê? Porque será que as mulheres têm a percentagem esmagadora de cancro da mama e do útero?

Sim, PORQUÊ
Já pensaram nisso?
E a fibromialgia e a bipolaridade e a esquizofrenia…o histerismo a depressão?
São as mulheres congenitamente propensas às doenças ditas  “tipicamente femininas” mais do que os homens ou apenas sofrem mil vezes mais do que eles com tudo o que carregam à sua conta – pais maridos filhos etc. - e ainda por cima a frustração e a raiva dos homens que dizem que as amam e as submetem a violência psíquica emocional e física, mesmo para não falar da violência implícita na posse, no sexo, no uso do corpo da mulher como se fosse propriedade sua?

Sim, podemos dizer que a mulher consente, que ela deixa, que ela até fomenta isto tudo, mas não branqueiem centenas de anos de repressão e jugo, de centenas de anos de perseguição e exploração sexual e afectiva…que ainda se mantém com aparência de liberdade…no cinema e na publicidade.
Por Amor da deusa! Só não vê isto quem é cego…
Ah sim...eu sou louca, velha, sim a anciã, pois...sou!


rlp