O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, outubro 30, 2015

O SISTEMA PATRIARCAL - O QUE É?


O PATRIARCADO NÃO É UMA "SUPERSTIÇÃO"...

"Patriarcado é uma cultura, um sistema, uma civilização, um sistema econômico, um sistema político, um sistema legal, um sistema religioso, um sistema científico, e assim por diante. Mas acima de tudo, o patriarcado é um PODER. Um poder que se manifesta em todos os lugares, instituições, pessoas, hábitos, culturas, religiões, ideologias, mesmo entre mulheres. Isto porque o patriarcado socializa com os papéis e as hierarquias de gênero... que existem entre homens e mulheres. O patriarcado existe há tanto tempo pois promove a sociabilidade entre homens, que se tratam como irmãos (fraternidade), atribuindo-lhes poder. Enquanto isso, obriga as mulheres a reproduzirem e sustentar materialmente os homens, socializadas entre si como inimigas, servindo aos interesses do desejo masculino."

Texto adaptado de: “O que é feminismo” de Dra. Elida Aponte Sánchez
 

quinta-feira, outubro 29, 2015

QUE AZAR

TUDO ISTO À LUPA...
 

TUDO ISTO ACONTECE A MULHER - e como pode a mulher acreditar que é emancipada nesta sociedade?


que azar
nascer mulher...
furar a orelha
usar cor de rosa
lavar a louça
limpar a casa
lavar a roupa
chegar na escola e ter vergonha
dos peitinhos que crescem
e o parente que espia atrás da porta e diz
não tenha vergonha deles
um sutiã com bojo para aumentá-los
um lápis preto no olho porque
as maravilhosas da televisão usam
e de repente é puta
porque beijou um menino na festinha americana
e no outro fim de semana beijou outro
e de repente está bebada
na cama de um sexo masculino
-Acho melhor a gente parar.
-Calma, deixa eu finalizar.
Primeiro namorado, levantou a mão para dar um soco, abaixou em seguida.
Ô delícia! Ô gostosa! Deixa eu meter nessa bucetinha.
e no transporte coletivo com o ônibus lotado roçam o pau na sua bunda.
e numa balada playboy passam a mão na sua bunda.
e aí o parceiro se recusa a usar camisinha, ela cede
menstruação atrasada, desespero, ansiedade, estresse,
enlouquece.
compra o remédio abortivo, a menstruação desce
o sangue? É sujo.
o corpo? É dela.
e o parente
-Você não vai se maquiar? Parece uma sapatão.
-E essa roupa? Parece uma mulamba.
-Passa um batom, bota um salto, se arruma, minha filha.
-Que homem vai te querer vestida desse jeito?
-Mulheres nojentas, essas que não se depilam.
-Você vai sozinha? É muito perigoso, você é mulher.
É retirada do estabelecimento por amamentar em público
ninguém mandou fazer, na hora foi gostoso não?
e num papo sobre sexo com as amigas descobre que
uma delas, aos 29 anos, nunca teve orgasmo
e que o abuso é calado
e que outra toma anticoncepcional
para que o parceiro não precise usar camisinha
porque hoje em dia as doses de hormônios são muito baixas
e é completamente seguro para saúde das mulheres
(disse o doutor)
e para o estado
ter você sob controle
e que tenha vergonha do seu corpo imperfeito
e que se afunde no salão de beleza, na academia e no shake
e que seja frágil, para não conseguir andar
e que consuma muito para não conseguir pensar
porque hoje em dia querem lhe roubar até o parto natural
porque o assunto veio a tona na mídia virtual
porque caiu no enem
porque as mulheres estão se unindo
porque a violência existe escancarada
porque está na hora de um basta
porque o assunto vai ser sempre tratado com desprezo e chacota
por machos-alfas que estão perdendo o posto e vão dizer:
-Machismo não existe!
-Feminismo para que? Bando de mal comidas.
e esquecem das próprias mães.
-
Texto de Caroline Lemes

terça-feira, outubro 27, 2015

A LUTA DAS MULHERES...


E A REACÇÃO MISÓGINA DOS HOMENS...

Estava a pensar em como é que os homens em geral, seja na politica seja na literatura ou arte e mesmo os ditos espirituais reagem à questão do assédio e da violência generalizada sobre a mulher, o FEMINICIDIO, pela forma como escondem e branqueiam esta questão sempre com displicência e arrogância quando olham as mulheres ao falar-se disso; e o mesmo acontece com as mulheres supostamente intelectuais, quando se abordam estas questões entre si querendo sempre fazer parecer qu...e está tudo bem e que a mulher conseguiui a igualdade...e é livre!
 

Sim a mulher está na luta pelo poder e desafia todos os tabus e preconceitos seculares que sobre ela caiam e estão vinculados ainda à religião e ao Sistema Patriarcal. O drama da mulher porém é que ela não viu a armadilha em que caiu e que afinal a conquista dessa igualdade...é uma falsa liberdade baseada na sua afirmação pelos valores dos homens, sendo como eles e não verem que isso nada tem tem a ver com a verdadeira feminilidade...mesmo que sigam a moda e a estética e a cosmética, tudo isso é uma máscara que nada tem ver com a Mulher real.
 

As feministas lutaram por essa igualdade (e eu também), pela liberdade e direitos iguais...mas o que aconteceu é que o que conseguiram fazer foi transformar a mulher num travesti do homem e não se encontraram nunca como Mulheres...A essência do feminino e a sua dimensão ontológica foi apagada e as mulheres são hoje mais masculinas e agressivas que os próprios homens e sujeitam-se assim a uma luta de forças quase bestiais que leva social e psicologicamente a uma crescente violência e abuso sobre si e as outras mulheres - elas cairam na armadilha do patriarcado, na ilusão de liberdade, e não conseguem ver que estão cada vez mais longe da verdadeira mulher, da sua dignidade, lutando pelo Sistema e as suas ideias contra si mesmas...
rlp

segunda-feira, outubro 26, 2015

E as mães são cada vez mais belas.

AS  MÃES
(...)
No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras....
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se
pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e órgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
nas cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo. São
silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.

(...)
(Excerto de poema de Heberto Hélder)

O TEMPO...



"Encarar a vida pela frente...Sempre. Encarar a vida pela frente e vê-la, como ela é...e depois deixá-la seguir...Sempre os anos entre nós, sempre os anos...Sempre o Amor...Sempre a razão. Sempre o tempo. Sempre...as Horas."


Virgínia Woolf

sábado, outubro 24, 2015

A MORDAÇA DO CASAMENTO



« Não nos libertaremos nunca do patriarcado com anátemas !» dizia a Agnès Echène antes de morrer, e tinha muita razão. É que todas nós excomungamos o patriarcado, mas poucas ou nenhumas se questiona, verdadeiramente, sobre a sua história e a sua instituição de base que é o casamento.

Tudo incita (obriga) a mulher à conjugalidade e desde meninas sonhamos com uma família criada por nós, muito feliz para sempre. Só que aqui, a história é explícita e põe-nos no lugar : mostra-...nos que o casamento não foi instituído para nos tornar felizes mas, tão só, para « dar » descendência aos homens (note-se já aqui a noção de posse).
 

O mundo da Deusa, esse mesmo de que tanto gostamos, onde as mulheres eram livres, respeitadas e onde o poder do feminino era divinizado ; nesse mesmo mundo ainda não havia casamento. Eram as sociedade totémicas, era o mundo do matriarcado. Esse mundo, não era o dos escritores românticos do sec. XIX e ainda menos o de hoje.
Amigas, se queremos mesmo desvendar o patriarcado temos que começar pelo princípio e questionarmo-nos, com a cabeça fria e liberta de sonhos infantis. Caso contrário, não vale mesmo a pena andarmos por aqui, nem esperar que a violência acabe nas famílias, nem seguir cursos de empoderamento da mulher, nem sequer adorar Deusas ou fazer rituais. O patriarcado não deixará nunca de nos amordaçar se não o questionarmos naquilo que lhe dá poder ; A conjugalidade.


ANA VIEIRA

A MAGIA DE SER MULHER...

"O cérebro de uma mulher depois de 40 é fabuloso. Cada ano de sua vida age como um fertilizante de conexões neurais, que por sua vez significa novos pensamentos, emoções e interesses.
Como sabemos, uma vez que ocorrem em seu cérebro mudanças constantes ao longo de suas vidas, a realidade de uma mulher não é tão estável como a de um homem.
Neste sentido, é dito que a realidade neurológica de um homem é como uma montanha que vai gastando  imperceptivelmente geleiras, tempo e os profundos movimentos tectônicos da terra. No entanto, a realidade de uma mulher é um pouco como o tempo, em constante mudança e difícil de prever.
“Portanto, se o cérebro da mulher é capaz de mudar de semana para semana, imagine o que significa uma vida de mudanças hormonais maciças.”

A magia de ser uma mulher depois dos 40

Normalmente, os 40 anos são como um palco onde você está entre duas gerações que revelam a natureza efêmera da vida. Então, como poderia esperar, você começa a questionar os imperativos que te levaram ao lugar em que você está.
Assim, tenta conciliar as responsabilidades assumindo certos riscos que lhe permitam descobrir o caminho a todos aqueles sonhos dos quais um dia se afastou por conta de situações que te deixaram emocionalmente exausta.
“Assim mesmo, de repente quando vai comemorando aniversários, parece que o nevoeiro se dissipa e você começa a ver o que antes não podia. Ou seja, as cordas de seu coração pulsam para a batida de um tambor distante que se aproxima.”


O pulso do cérebro feminino

Podemos dizer que os hormônios criam muito da realidade feminina, ajudando a moldar as experiências com os valores e desejos de uma mulher. Assim, o cérebro das mulheres após os 40 é um reflexo claro do que é importante para elas em seu cotidiano.
No entanto, o cérebro é apenas uma máquina de aprendizagem dotada de talento; ou seja, embora a biologia seja poderosa, nosso caráter e comportamento são construídos em sua confluência com o mundo.
“Assim, ao longo de nossa vida, quando o cérebro é inundado com estrogênio começamos a focar intensamente em nossas emoções assim como nos comunicarmos e compreendermos.”
Geralmente, o cérebro feminino toma decisões sobre os valores que conduzem a conexão e comunicação. Assim, a estrutura, função e química de uma mulher afeta seu humor, seus processos de pensamento, energia, impulso sexual, comportamento e bem-estar.
Nas palavras do neuropsiquiatra Louann Brizendine “o cérebro feminino tem muitos recursos exclusivos: excelente agilidade mental, capacidade de se envolver profundamente na amizade, capacidade quase mágica de ler rostos e tom de voz em termos de emoções e humores e grande habilidade para desarmar conflitos. ”

O poder dos hormônios femininos para mudar o mundo

Certas mudanças ocorrem com freqüência depois de anos seguindo os ritos de sacrifício das mulheres que vivem para tudo e para todos, e se esquecem de si mesmas. Ou seja, vão em busca de uma liberdade que vai além do físico e se move para o emocional.
Embora possa parecer intrigante, o relógio biológico também desempenha sua função para uma mulher cuidar de si mesma e proporcionar felicidade ao seu ser. Este estágio no desenvolvimento psicológico também é impulsionado por uma realidade biológica: o cérebro começa a sua última viagem ou mudança hormonal. Vamos falar sobre isso …
Se pudéssemos ver o cérebro de uma mulher depois dos 45 anos, veríamos uma paisagem completamente diferente de alguns anos atrás. Nessa idade, a constância no fluxo de impulsos substitui a montanha-russa hormonal (estrogênio e progesterona) do ciclo menstrual.
A partir dessa idade, o cérebro é transformado em uma máquina precisa e estável. Além disso, não veríamos mais como os circuitos da amígdala são alterados pelo efeito de hormônios, fazendo-nos ver escuridão onde não existe ou interpretando como um insulto algo que não foi.
“Pelo contrário, veríamos como os circuitos que ligam o nosso emocional (amígdala) e área de análise e julgamento das emoções (o córtex pré-frontal), atuam de forma coordenada e coerente.”
Em outras palavras, uma vez que estas áreas não são mais estimuladas pela ação desproporcional de hormônios, as mulheres são muito mais equilibradas, podem pensar com mais clareza e não são tão oprimidas por suas emoções como antes.
Assim, especialmente no final da quarta década de vida, geralmente, começa esta mudança emocional que leva as mulheres a observarem a realidade a sua volta de outra maneira.
“Graças à redução do fluxo de dopamina e oxitocina, as mulheres começam a parar de se sentirem tão recompensadas através do cuidado dos outros, e procuram contato consigo mesmas.”
Nesta busca, a mulher se maravilha com a sua própria energia e começa a ruminar uma nova visão de mundo que vai além da necessidade de se conectar e cuidar dos outros. Agora, ela vê a vida com a premissa de não fazre-se prisioneira e lançar um novo equilíbrio.
Então, essa verdade biológica representa um novo caminho a seguir, um mistério que muda seus pensamentos e emoções ao mesmo tempo em que as encoraja se comportarem para redefinir suas relações e papéis, bem como assumir novos desafios e aventuras.
Por fim, deixamos-lhe uma citação de Oprah Winfrey que define perfeitamente o poder que uma mulher dá-se ao longo dos anos. Esperamos que vocês gostem:
“Fico maravilhada porque com esta idade ainda estou me desenvolvendo, à procura de coisas e superando meus limites para adquirir mais ilustração. Quando eu tinha vinte anos, pensei que haveria alguma idade mágica adulta, talvez trinta e cinco anos, e minha situação “adulta” chegaria.
É engraçado como este valor foi mudando ao longo dos anos, e como até mesmo aos quarenta, qualificada pela sociedade como meia-idade, ainda sinto que não sou a adulta que tinha certeza que seria.
Agora as minhas expectativas de vida ultrapassaram quaisquer sonhos ou esperanças que imaginei, tenho a certeza de que devo continuar me transformando para me tornar o que devo ser.”

In O SEGREDO

A BUSCA DO PRAZER...


FALL IN LOVE...

(aviso que poderei estar a ser radical demais...)

"Quando a mulher durante milénios foi única e exclusivamente reduzida à reprodução e à serventia do homem - a sua própria existência, a existencia da sua alma, foi causa de discussões em concílios e tratados métafisicos - não é de admirar que ela não saiba quem é e muito menos o papel que ela tem na evolução do mundo. Também não admira que a única referencia seja o masculino; Afinal, se a mulher não existe, o que é que eu, mulher, poderei ser? Haver mulheres que se anulam ao incorporarem os códigos masculinos é quase passagem obrigatória. É o caso dos movimentos feministas que partiram dessa não existencia e que por isso adoptaram aquilo que era conhecido, ou seja, o mundo dos homens. Com isso rejeitaram atributos importantes que fazem parte do mundo feminino (aqui pode-se dizer que deitaram fora o bébé com a àgua do banho)." Ana Vieira


Estava a pensar, tal como esta amiga diz,  em como nós mulheres durante séculos vivemos exclusivamente presas do ideal do homem (ou o casamento solução económica, destino) como único sentido e razão para a nossa vida e como agora vivemos inteiramente debaixo da pressão da busca do amor de um homem e sem o qual não conseguimos ser gente...sem ter qualquer consciência de nós mesmas como UM SER que vive por si sem apêndices.

Não conseguimos encontrar o nosso centro, a nossa essência sem o homem ou o filho a preencher-nos...Casar e ter filhos ainda é o imperativo do Sistema que nos aprisionava à função reprodutora ou de prostituta...Passados tantos anos de luta "feminista" por igualdade e liberdade, não conseguimos ainda termos existência própria e viver a vida apenas como indivíduos singulares, independentes, tal como o homem sempre fez...porque somos hoje já não tanto  e apenas "a mãe e a esposa", mas prisioneiras desse mito recente  ou desse sonho de um complemento amoroso, de um outro ser que nos domina o pensamento e  achamos que apenas só "ele" colmata as nossas carências e faz de nós seres inteiros e ser essa a única forma para nos sentimos vivas e vibrar,  quando só por nós não temos sentido e o vazio nos domina as horas do dia e  às vezes a vida inteira, mesmo tendo uma profissão activa e exaustiva.
Por isso caímos hoje em práticas sexuais aliciantes, com utensílios e chicotes, ou praticas orientais, como o Tantra, na ilusão de que o sexo e o prazer são a única coisa que faz sentido na nossa existência. Ah o orgasmo - como o divinizamos...a essa pequena morte...E passamos da frigidez ou da "castidade" caseira, da obrigação de servir o homem das domésticas, à sexualidade compulsiva de obediência ao desejo sado-maso masculino das executivas e universitárias, passamos  de sermos meros objectos de desejo para sermos então as "sacerdotisas do amor" que sabem truques sobre como dar prazer ao homem ou o manter preso a si e agarrar...
Julgamos que estamos a evoluir...mas  apenas projectamos uma ideia de sexo "espiritual" (a Kundaline?) que resulta na mesma dependência que temos da posse (possuir ou ser possuída) e da dependência dos homens, sejam mestres ou "facilitadores"... na vida comum patriarcal, e sim continuamos sob o seu domínio..."espiritual"...e o que  muda é que agora usamos outro nome para a nossa dependência e chamamos-lhe "sexualidade sagrada"...

Libertamo-nos de uma condição e ficamos presas de outra...

Nas mulheres jovens eu entendo a sua apetência, a sua busca do sexo na fase mais acesa da sua vida...nomeadamente a fogosidade das Afrodites...mas a mim o que me custe mais é ver  as mulheres depois dos 50 ou 60 e mais,  à espera ainda do parceiro ideal...(já não o marido, o 2º ou 3º,  ou o príncipe-sapo),  nestas ondas new age na busca da "alma gémea" ou o "par alquímico"...etc. como se nós sozinhas não pudéssemos sobreviver e viver à nossa custa, eternamente prisoneiras do amor sexual...e de um prazer ilusório, porque efémero...Vivendo esta obsessão, esta enfase permanente, esta tónica constante na sexualidade...e pouco mais!

O que se passa com a mulher madura, com a mulher experiente?

Sim, penso  nesta vantagem que temos de viver mais 20 ou 30 anos depois da menopausa buscando e dando um outro sentido a nossa existência. É certo que o facto de ter já uma "certa idade" - embora perceba cada dia melhor que nada em nós envelhece senão o corpo e só muda a nossa aparência...- vejo bem por mim mesma o quão difícil é consciencializar este movimento secular em nós...o difícil que é libertarmo-nos dessa compulsão, para darmos lugar aquilo que em nós é potencial e verdadeiramente sagrado: A essência vitalizante do nosso útero e do que é só nosso por herança genética, memória de deusas e xamãs e fazermos então um trabalho bem mais alargado do que a busca do nosso prazer sexual...para podermos enfim dar lugar ao nosso ser inteiro e à nossa alma, à nossa integridade como mulheres e assim podermos caminhar para uma verdadeira realização interior que não depende do amor de ninguém para sermos, seja de um deus, seja do amor de um homem (ou mulher)  seja do amor sexual ou da libido...
E contudo sei muito bem  e compreendo como é fácil cair na tentação de continuar a acreditar que é desta que nos amam e encontrámos o tal "par alquímico" (o nosso complemento na eternidade? o nosso DUPLO, O NOSSO KA...o nosso ser divino, mulher ou homem, pouco importa, que existe, mas noutro plano?) e que a nossa "cara metade" nos levará às alturas e ao sétimo céu...sem ver que ele ou ela, não é senão  "o/a outro/a" que está fora e nos espelha apenas a mesma ferida da encarnação, a mesma carência e a mesma dor...a mesma incompletude de Ser!
Sim, sei como é fácil deixarmo-nos embalar na musica ou na "canção do bandido/a"...nas suas musicas sensuais e exóticas, nas suas baladas, nos mantras e mentiras que nos contamos para adiar essa solidão e essa grandeza de sermos apenas nós e sós numa dimensão bem mais elevada do que a nossa limitada ambição de amor tão humana...e tão baixa...sempre a cair da ribanceira abaixo - sim: "fall in love"...cair apenas, cair na armadilha que nos afasta do nosso centro e do nosso próprio ser...mas nunca subir uma oitava acima...
Na verdade só quando caímos mesmo é que nos damos conta da loucura do ser humano...especialmente da mulher ...e não será essa a sua QUEDA?
Sem dúvida que é uma Queda...mas não é a culpa da mulher - e essa é outra história que não entra neste texto.
MAS ATENÇÃO: Eu não nego o erotismo nem Afrodite ou Dionísio e os seus jogos, não nego mística da busca dos Fieis do Amor, nem da Musa nem da Deusa... nem portanto as relações ditas amorosas, a busca de um par (amante ou marido) mas apenas recuso esta enfase colocada totalmente nelas...Porque vejo o amor a dois como uma relações de partilha - como espelhos - e não de consumação absoluta e eterna ou única forma de sermos mulheres...e entendo que há um momento em que o ser humano, mulher ou homem, sendo mais velho/a, se deve virar para a sua vida INTERIOR , espiritual (o ciclo de vida e morte) depois de ter esgotado uma vida material de objectivos terrenos...
rlp

sexta-feira, outubro 23, 2015

ESTA TRAGÉDIA...



A Missão de Continuar a Vida

"Ninguém se pode possuir inteiramente, porque se ignora, porque somos um mistério. Para nós mesmos. Podemos sim, ser mais conscientes de uma determinada missão que temos no mundo. Todos nós somos uma missão. Somos a missão de continuar a vida, aperfeiçoando-a, festejando-a e não destruindo-a como se está a fazer hoje. Eu não tenho certezas, mas tenho convicções e uma das minhas convicções mais firmes é que nascemos para a liberdade. E, no entanto, veja o paradoxo: essa liberdade, esse caminho para a liberdade está a ser cada vez mais obscurecido por aquilo que observamos no nosso mundo de hoje. Nós chegamos a esta coisa terrível, o chamado equilíbrio nuclear, que é o jogo de escondidas de duas disponibilidades criminosas para suprimir a humanidade. A humanidade está hoje pronta (parece que está sempre pronta!) para pôr luto por si própria. Isto não é uma forma humana de viver. Esta tragédia tem que ser a sua «húbris», que é, digamos, a arrogância que desencadeia a catástrofe punitiva. E o que me perturba muito, o que me assusta, é que países que subscrevem, que proclamam os direitos humanos, possam entrar num jogo fatal destes, um jogo que se destina a suprimir o homem."


Natália Correia, in 'Entrevista (1983)'

terça-feira, outubro 20, 2015

O KA


A transformação física

"A Transformação ou deificação do corpo físico é um tema evidente na tradição esotérica egípcia. É evidente a partir da ciência dos antigos egípcios e das suas práticas religiosas. O objetivo era a transformação das características físicas que se tornariam as forças eternas, metafísicas ou  transcendentes. Esta transformação resultaram na possibilidade de utilização de um corpo superior e mais fino. É um processo que foi aludido em muitas antigas religiões de mistério, mas que nunca foi tão claramente formulado como escrituras sagradas do Egito.
As pessoas poderiam ser elevadas a uma  expressão superior da sua existência. Os mesmos poderim  ser deuses.

Oaxioma hermético diz:

"o que  está em  acima, é igual ao que em baixo.
Assim como está no grande está no muito pequeno.
Tal está como no interior, e portanto, também no exterior ".


Estas forças não foram, portanto, restritas a deuses. Ra a energia solar é transferida por exemplo diariamente para toda a vida, como proclamado neste sol-mantra:

"Eu estou convosco todos os dias,
de tal modo que todas as partes do vosso corpo
possam ser renovadas por minha luz ".


Este conhecimento das possibilidades de transformação não foi reservado para o sacerdócio e a consagração. Fora do templo eram deuses transformando forças conhecidas e reconhecidas, e os egípcios comuns tentavam contatá-los através de invocações e cerimônias. Apelavam a  ISIS, porque  sabiam  que o seu poder era mágico e  revogada as influências destrutivas, enquanto Sakhmet possuía a capacidade de remover a doença. E os túmulos foram a mais poderosa força de transformação que poderia acumular a uma força que a alma poderia usar continuamente na vida após a morte."

segunda-feira, outubro 19, 2015

AJUDAR OS OUTROS...


"Fiquei frequentemente muito comovido ao descobrir que podemos levar as pessoas a ajudarem-se a si mesmas auxiliando-as a descobrir a própria verdade, de cuja riqueza, doçura e profundidade talvez nunca tivesse suspeitado. As fontes de cura e da consciência estão muito enterradas dentro de cada um de nós e a nossa tarefa é a de nunca impormos as nossas crenças, sejam quais forem as circunstâncias, mas sim permitir que as pessoas as encontrem dentro de si mesmas."

Sogyal Rinpoche - O LIVRO TIBETANO DA VIDA E DA MORTE
Hoje entrei na fase azul...

SEMPRE ATRÁS DE MIM...


os olhos da alma


"... E nos retratos: não ficou o desenho que o traço escuro das tuas sobrancelhas inscreveu na parede do próprio girar?"   - Raine Maria Rilke


...Ah, SE nós pudéssemos...como se fossemos um Jardim...desfolhar ao vento rosas e jasmins...e deixar que cada Ser sentisse no Éter o aroma mais rico e mais belo que a vida tem para si...

rlp

 

domingo, outubro 18, 2015

A Jovem, a Mãe e a Anciã...



Nós Mulheres somos todas parte de uma teia constitutiva...de energias e redes invisíveis...
Nós vamos lá chegar, ao centro...porque  cada uma de nós  tem a marca de uma Estrela na fronte. A mesma estrela que nos marca há milénios e nos faz descer à Terra para a cuidar e amar o que só é possível pelo nosso despertar interior, não forçosamente pelo beijo do príncipe...nem do sapo...mas da Velha mulher em nós, a Sabedoria. Na união das 3 Mulheres que todas somos: a Jovem, a Mãe e a Anciã...
Não divididas, não separadas...mas unidas dentro, ligadas por esse fio invisível que é um colar de pérolas, rubis e diamantes...

Rosa Leonor Pedro

sexta-feira, outubro 16, 2015

Não interrompa o caminho de ninguém, não queira 'doutrinar'...

 
 
 
"Cuidado ao querer 'salvar', curar ou consertar alguém. Salvar, curar ou consertar, do que? Em relação a que? Ao que você acha certo/errado, às suas verdades, às suas ideologias? Cuidado, você pode cortar a única via de sustentação que a criatura tem à vida. Jung propõe que deve-se não interromper ou desviar o indivíduo de suas convicções, do que o move, de suas verdades. Porque é exatamente o que... o move será instrumento de sua salvação, podendo ser o seu mais absoluto erro. Exemplo, conversão do Apóstolo Paulo, o que movia Saulo, o doutor da lei, era o 'ódio' aos cristãos, e foi este, o seu mais absoluto erro, que o fez converter-se, diz Jung. Sugestão, não interrompa o caminho de ninguém, não queira 'doutrinar', salvar ou consertar, senão incorrerá no mesmo erro que o macaquinho causou, ao ver o peixinho nadando numa água fria num anoitecer, com dó, por 'caridade', o tirou de lá, aquecendo-o com pouco de fogo, para que não se resfriasse."

João Januário - psicólogo clínico

quinta-feira, outubro 15, 2015

ISTO METE NOJO...

“A Mulher, a Mulher autêntica, reintegrada a sua plenitude e poder faz medo a esses sub-produtos que são os homens numa sociedade paternalista."  Jean Markale



"Fãs querem despir Mortágua
Petição online deseja ver Mariana na 'Playboy'."

...
Sim, isto é uma tentativa para desviar o verdadeiro potencial desta jovem que aparece com enorme dignidade e clareza face a toda esta palhaçada politica e a falta de qualidade humana dos politicos nacionais.
Estas manobras machistas (ou feministas) servem exactamente para destruir a credibilidade e o respeito que ela insppira - nada como fazê-la pousar nua numa revista estúpida e vazia para ela se destruir e ser ridicularizada pelos cómicos de serviço......
 
O Sistema não perdoa a integridade de uma mulher!

Esta garota tem muita classe e integridade...e já a "malta" a quer aviltar, fazer cair ...
A mulher é sempre aviltada através da exposição do seu corpo - os meios sociais e os Mídias patriarcais, falocráticos e fascistas tem sempre uma maneira de vulgarizar e amesquinhar a mulher QUANDO ELA TEM NIVEL - expondo-a nua como nas revistas de pornografia.
Espero que esta jovem mulher resista a tentação ou à vaidade - o ego é tramado - e não ceda - seria mais uma mulher ridicularizada e desrespeitada como o foi a Joana Amaral Dias - por livre iniciativa.
NÃO! O Sistema patriarcal e falocrático não perdoa a integridade de uma mulher!
Há-de querer sempre conspurcá-la e fazê-la cair na sua armadilha...a pornografia - para dizer que toda a mulher é puta...O problema de hoje em dia é que são as próprias mulheres a fomentar isso...e a alimentar a besta, expondo-se gratuitamente...

Nota À Margem:

Eu sei que há mulheres que consideram o nu estético e artístico e que o defendem na sua expressão artística, seja ela qual for, fotografia, dança ou poesia, evocação da deusa ou ritual de fecundação, tantra etc. como afirmação de libertação e igualdade da mulher com o homem. O que eu penso porém, é que sendo essas mulheres jovens e acreditarem piamente na libertação da mulher veem  isso como um garante da sua liberdade e independência sem perceber contudo que dentro do Sistema patriarcal o OLHAR DO HOMEM é sempre redutor e aviltante do seu corpo e sexo, e que essa afirmação artística por mais elevada que seja não faz à partida qualquer diferença com o que eles homens fazem através da publicidade abusiva dos seus corpos obejctos  nem com a pornografia.
O olhar do homem comum e da mulher também é refém dessa marca inconsciente de como o corpo da mulher foi e  é visto quando exposta ao público.
Tenho amigas que defendem o nu da mulher como forma de liberdade e democracia, mas são as minhas amigas feministas e não só, as utópicas que ainda creem num mundo de igualdade que nunca existiu dentro do Sistema patriarcal e falocrático. Portanto eu não condeno o nu em si, nem a arte que o usa...mas lamento a exposição inútil e nociva que acaba sendo para si e para todas as mulheres...
Qualquer mulher que se dispa para uma Revista Play Boy ou outra, acaba sempre por ser desconsiderada e mal vista...a longo prazo desfeita...
NÃO! O Sistema patriarcal e falocrático não perdoa a integridade de uma mulher!
rlp

CHEGOU A HORA...



OS ÚLTIMOS 5 MIL ANOS...

(...)
"Durante este período de mudança, será necessário que as mulheres desatem o "nó da garganta" e se permitam falar. Chegou a hora. Para os homens, o desafio consiste em com­preender as mulheres e sentir. Devem deixar que o sentimento entre na expressão da vossa sexualidade e dos vossos relacio­namentos. Muitos homens estão atravessando um período de grande dificuldade em relação às mulheres. É verdade. O que estamos sugerindo à vi...bração masculina - e isso vale também para as mulheres, quando operam seu aspecto masculino - é que deixem o sentimento entrar na área da sexua­lidade. Sintam a amplitude da emoção e não apenas a sexuali­dade física, o estímulo localizado.
Existe um estímulo emocio­nal que necessita de um compromisso emocional e de uma confiança emocional. No campo electromagnético, este estímu­lo emocional vai abrir uma frequência dentro de vocês. Esta frequência, que a sexualidade representa, é um remanescente da vossa divindade. Os homens fecharam o seu centro do sentimento para serem os comandantes do planeta. Foram capazes de guerrear, matar e dominar o planeta por terem fechado este chakra do sentimento. E as mulheres concordaram em fechar o chakra da laringe, o centro da fala, para que os homens tivessem a oportunidade de comandar o sistema.
Tudo isso agora está chegando a um ponto de equilíbrio, de estabilização, de equalização. As mulheres começaram a abrir sua garganta há cerca de trinta anos, passando a ter a oportunidade de falar sempre. O problema é que muitas mulheres acabaram fechando o centro do sentimento ao abrirem o da fala. Começaram a parecer homens. É necessário equi­líbrio. A mulher agora está sentindo a necessidade de despertar o princípio feminino dentro dela. Vive num corpo feminino e controla o uso da vibração masculina no seu interior.
Saiu para o mundo, sente-se poderosa. Pode andar pelas ruas sem um véu a esconder-lhe o rosto e decidir se deseja, ou não, se casar. É dona de si. É responsável por suas próprias decisões. Está começando a se tornar mais suave, despertando seu lado fe­minino que a nutre e vitaliza. Ao se tornar inteira, com suas porções masculina e feminina, e se permitir vivenciar o DNA evoluído, ela transmite uma frequência. E esta será a frequência predominante no planeta. É inevitável que os homens abram o centro do sentimento. É o próximo passo que precisam dar para estabelecer o equilíbrio com as mulheres. Isto vai acontecer muito depressa para os homens."
(...)
In Mensageiros do Amanhecer – Barbara Marciniake

A CABEÇA E O CORAÇÃO...



ONTEM COMO HOJE, O MESMO ERRO (de Descartes?)...

«Primitivamente, a cabeça devia ser regida pelo coração; ela só devia servir para engrandecê-lo. Hoje a cabeça do homem reina sobre o seu cor...ação, quando é ao coração que o ceptro deveria pertencer; vale dizer que o amor é superior à ciência, dado que a ciência deve ser apenas o archote do amor e que esse archote é inferior àquele que ele ilumina.»* *Louis-Claude de Saint-Martin


- Grandes místicos e grandes filósofos colocaram a mão na ferida desta humanidade dividida, mas nenhum viu ou quis ver que o coração faz parte da realidade expressa pelo lado feminino da humanidade que acorrentado e subalterno na mulher, e tendo o homem reduzido a humanidade a uma metade, activa e racional, dando-lhe primazia absoluta no seu mundo de razão poder e força, perdeu ele também essa metade instintiva e emocional (o amor) que corresponde à sua parte feminina e de que a Mulher, que ele suprimiu do seu vocabulário e da sua história, é o expoente máximo.
Eles continuam a não querer ver que não é elegendo uma Deusa Mãe imaculada nos altares a quem reza, mas elevando a Mulher real à sua dignidade que ele vai encontrar o equilíbrio do mundo. Se o Homem representa a "cabeça" a Mulher representa o "coração" nesta Humanidade e isso foi ignorado quase sempre pelas Tradições esotéricas e mesmo por grandes Mestres, mas só elevando os dois às mesmas alturas, unindo a Terra e o Céu o SER HUMANO poderá recuperar a sua verdadeira estatura de humano e para o qual foi criado!
Os homens e as mulheres continuam a escamotear verdades fundamentais como o facto do desequilíbrio do mundo derivar da falta do princípio feminino e do seu justo valor não ser efectivamente atribuído à Mulher e à Mãe. Em quase todo o mundo e em todos os países, uns mais do que outros, existe uma óbvia discriminação do ser mulher...e a negação dos valores que ela representa.
Ninguém quer ver que essa descriminação começa e é feita entre nós na própria linguagem, na omissão da mulher nos discursos, sempre no masculino, na falta de entendimento de que sem a emoção-coração - o polo que a mulher representa - e nela está a origem dos grandes dramas no Planeta?
rlp

republicando

LEMBRANDO...



"... É a grande, interminável conversa das mulheres, parece coisa nenhuma, isto pensam os homens, nem eles imaginam que esta conversa é que segura o mundo na sua órbita, não fosse falarem as mulheres umas com as outras, já os homens teriam perdido o sentido da casa e do planeta..."


José Saramago
(in O Memorial do Convento)

quarta-feira, outubro 14, 2015

Na quietude da noite, a Deusa sussurra...


TRANSCENDER O EGO...
 
Justamente porque o ego, a alma e o Eu (Self) podem estar presentes ao mesmo tempo, não será difícil entender o sentido verdadeiro de "ausência do ego" - expressão que tem causado imensa confusão. Ausência do ego não significa a ausência de um eu (self) funcional (o que seria próprio de um psicótico e não de um sábio); significa que não estamos mais exclusivamente identificados com aquele eu.

 Um dos muitos motivos de não sabermos lidar com a não ego  ou a  "ausência do ego"  que desejamos que nossos "sábios sem ego" satisfaçam as nossas fantasias relativas a "santidade" ou "espiritualidade", o que, habitualmente, significa que essas pessoas estejam mortas do pescoço para baixo, livres das vontades ou desejos da carne, eternamente sorridentes. Desejamos que esses santos não passem por todas as coisas que nos incomodam - dinheiro, comida, sexo, relacionamentos, desejos. "Sábios sem ego" estão "acima de tudo isso" - assim desejamos. Queremos cabeças que falem. Acreditamos que a religião bastará para livrá-los de todos os instintos básicos, de todas as formas de relacionamento, considerando a religião não como orientação para viver a vida com entusiasmo, mas sim, como guia para Evitá-la, reprimi-la, negá-la, fugir dela.

 Em outras palavras, o homem típico espera que o sábio espiritual seja "menos que uma pessoa", de alguma forma liberto dos impulsos confusos, difusos, complexos, pulsantes, compulsivos, que guiam a maior parte dos seres humanos. Esperamos que os nossos sábios sejam a ausência de tudo o que nos impulsiona. Queremos que não sejam sequer tocados por todas essas coisas que nos atemorizam, que nos confundem, que nos atormentam, que nos atordoam. É a essa ausência, a essa falta, a esse "menos que uma pessoa" que, frequentemente, chamamos "sem ego".

 Entretanto, "sem ego" não significa " menos que uma pessoa"; significa "mais que uma pessoa". Não pessoa menos, mas pessoa mais – isto são, todas as qualidades normais da pessoa mais algumas transpessoais. Pensemos nos grandes iogues, santos e sábios - de Moisés a Cristo, a Padmasambhava. Não foram desfibrados maneirosos, mas dinâmicos e instigantes - desde o episódio dos vendilhões do Templo até à imposição de novos rumos a nações inteiras. Lidaram com o mundo em seus próprios termos, não em termos de uma piedade melosa; muitos deles provocaram revoluções sociais significativas, que se estenderam por milhares de anos. E assim fizeram, não porque tivessem evitado as dimensões físicas, emocionais e mentais da humanidade - e o ego, que não é o veículo de todas elas, mas porque as assumiram com tal garra e intensidade que sacudiram as próprias fundações do mundo. Indiscutivelmente, estavam também intimamente ligados com a alma (o psiquismo mais profundo) e o esprito (o Eu informe) - fonte Última de sua força - mas expressaram essa força e tiraram dela resultados concretos, exactamente porque assumiram, decididamente, as dimensões menores através das quais ela poderia expressar-se de modo a ser sentida por todas as pessoas.

Esses grandes mobilizadores e agentes de mundana não foram egos pequenos; foram, na mais completa acepção do termo, grandes egos, justamente porque o ego (veículo funcional do domínio da mente) pode existir e de fato existe com a alma (veículo do sútil) e o Eu (veículo do causal). Na mesma medida em que esses grandes mestres mobilizaram o domínio da mente, eles mobilizaram o próprio ego, porque o ego é o veículo desse reino. Entretanto, não se identificavam meramente com seu ego (isso seria narcisismo); simplesmente perceberam seu ego conectado a uma fonte cósmica radiante. Os grandes iogues, santos e sábios conseguiram tanto, exactamente porque não foram temidos bajuladores, mas grandes egos ligados ao seu Eu superior, animados pelo puro Batman (o puro Eu - eu) que são um com Brahma; abriram a boca e o mundo estremeceu, caiu de joelhos e pode ver face a face o Deus radioso.

Santa Teresa não foi uma grande contemplativa? Sim, e Santa Teresa foi a Única mulher que reformou uma tradição monástica inteira (pensemos nisso). Gautama Buda sacudiu a Índia nos seus fundamentos. Rumi, Plotino, Bodhidharma, Lady Tsogyal, Lao Tsé, Platão, o Baal Shem Tov - estes homens e mulheres deram início a revoluções no mundo que duraram centenas, às vezes milhares de anos - coisa que nem Marx, nem Lenine, nem Locke, nem Jefferson, poderiam afirmar ter conseguido. E não agiram assim porque estivessem mortos do pescoção para baixo. Não, eles eram fantasticamente, divinamente grandes egos, ligados profundamente ao psíquico, que estava directamente ligado a Deus.

 Existe certa verdade na ideia do transcender o ego: não significa destruir o ego, mas, sim, conecta¡-lo a alguma coisa maior. Como afirma Nagarjuna, no mundo relativo, atman são real; no absoluto nem atman nem anatman são reais. Assim, em nenhum caso annatta corresponde a uma descrição correta da realidade. O pequeno ego não se evapora; permanece como o centro funcional da actividade no domínio convencional. Como eu disse, perder esse ego significa tornar-se um psicótico, não um sábio.

 "Transcender o ego", significa, pois, em verdade, transcender mas incluir o ego num envolvimento mais profundo e mais elevado, primeiro na alma ou psiquismo mais profundo, depois na Testemunha ou Eu superior e, então, dá-se a absorção nos níveis precedentes, envolver-se, incluir-se e abraçar-se na radiância do eu original, One Taste - o estado de visão não-dual ou consciência da unidade. Um Sabor. E isto não significa, portanto, "livrar-se" do pequeno ego, mas, ao contrário, habitar nele plenamente, vivê-lo com entusiasmo, usa¡-lo como veículo necessário, através do qual as grandes verdades podem ser transmitidas. Alma e esprito incluem o corpo, as emoções e a mente; não os eliminam.

Grosseiramente, podemos dizer que o ego não é uma obstrução ao Esprito, mas uma radiosa manifestação do Esprito. Todas as Formas não são senão o Vazio, inclusive a forma do próprio ego. Não é necessário livrar-se do ego, mas, simplesmente, vivê-lo com certa intensidade. Quando a identificação transborda do ego no Cosmos em geral, o ego descobre que o Atman individual é, de fato, da mesma espécie de Brahman. O Eu superior não é, em verdade, um pequeno ego, e, assim, no caso de estarmos presos ao nosso pequeno ego, a morte e a transcendência são necessárias. Os narcisistas são, simplesmente, pessoas cujos egos não são ainda suficientemente grandes para abraçar o Cosmos inteiro e, para compensar, tentam tornar-se o próprio centro do Cosmos.

Não queremos que os nossos sábios tenham grandes egos; nem sequer desejamos que exibam qualquer característica evidente. Sempre que um sábio se mostra humano - a respeito de dinheiro, comida, sexo, relacionamentos - sentimo-nos chocados, porque estamos planejando fugir inteiramente da vida, e o sábio que vive a vida nos ofende. Queremos estar fora, queremos ascender, queremos escapar, e o sábio que assume a vida com prazer, vive-a totalmente, pega cada onda da vida e surfa nela até o fim - nos perturba e nos assusta intensamente, profundamente, porque significa que não, também, devêramos assumir a vida com prazer, em todos os níveis, e não simplesmente fugir dela numa nuvem etérea, luminosa. Não queremos que nossos sábios tenham corpo, ego, impulsos, vitalidade, sexo, dinheiro, relacionamentos ou vida, porque essas são coisas que habitualmente nos torturam e queremos vá-las longe de nós. Não queremos surfar as ondas da vida, queremos que as ondas desaparecerem. Queremos uma espiritualidade feita de fumaça.

O sábio completo, o sábio não-dual está aqui para mostrar-nos o contrário. Geralmente conhecidos como "tântricos", estes sábios insistem em transcender a vida, vivendo-a. Insistem em procurar libertação no envolvimento, encontrando o nirvana no meio do ciclo contínuo de nascimento e morte. Samsara, encontrando a libertação total pela completa imersão. Passam com consciência pelos nove círculos do inferno, certos de que em nenhum outro lugar encontrarão os nove círculos do cau. Nada lhes é estranho porque nada existe que não seja Um Sabor.

 Na verdade, o segredo consiste em estar inteiramente à vontade no corpo e com seus desejos, com a mente e suas ideias, com o esprito e sua luz. Assumi-los inteiramente, plenamente, simultaneamente, uma vez que todos são igualmente manifestações do Um e unico Sabor. Vivenciar a paixão e vá-la funcionar; penetrar nas ideias e acompanhar seu brilho; ser absorvido pelo Esprito e despertar para a glória que o tempo esqueceu de nomear. Corpo, mente e esprito, totalmente contidos, igualmente contidos, na consciência eterna que é a essência de todo o espectáculo.
Na quietude da noite, a Deusa sussurra. Na luminosidade do dia, Deus amado brada. A vida pulsa, a mente imagina, as emoções ondulam, os pensamentos vagam. O que são todas estas coisas senão movimentos sem fim do Um Sabor, eternamente jogando com suas próprias manifestações, sussurrando mansamente a quem quiser ouvir: isto não é  você mesmo? Quando o trovão ruge, você não ouve o seu Eu? Quando irrompe o raio, você não é o seu Eu? Quando as nuvens deslizam mansamente no céu, não é o seu póprio Ser ilimitado que está acenando para você?

 Do livro One Taste, de Ken Wilber
 Tradudução e notas de Ari Raynsford

domingo, outubro 11, 2015

A AUTO-IMAGEM


A MENTIRA A SI PRÓPRIO


“Os problemas da auto-imagem dos narcisistas decorrem do fato de eles não poderem adequadamente colocar em confronto e em (doloroso) conflito a fantasia (a autoimagem grandiosa, que na sua situação está reactivamente, e em virtude de traumatismos precoces, hipertrofiada) e a realidade”. *
 
"Orientar-se em função de uma imagem fantasiada e valorizada de si próprio e resistir em confrontar essa personagem com as suas reais limitações, é porta aberta para transformar a vida em falha perpétua. A sua e a dos outros.
Esta realidade paralela, inaugura táticas em que nada consegue ser maior do que a mentira, porque o que interessa é tentar iludir. A si próprio, sobretudo. A mentira que se despede de tudo o que é autoaceitação, por não se ser perfeito, por não se saber, por errar."


*Narcisismo – defesas primitivas e separação, Climepsi
Publicada por cristina simões - in incalculavel imperfeição

SER MULHER?



Muitas pessoas ao lerem-me, sobretudo homens, devem-me pensar uma feminista arraigada ou coisa que o valha...Mas como tenho dito muitas vezes e para espanto de alguns "não sou feminista, sou antropologicamente lúcida" (A. Hatherly) e é essa LUCIDEZ mais do que qualquer outra coisa que me leva a bater nesta tecla e a colocar a tónica nos valores do Feminino, mas com uma imensa precaução: não deixar que confundam feminino com nada que não seja apenas SER MULHER em toda a extensão da palavra. É claro que a grande maioria das "mulheres" não sabe o que é isso e os homens estão completamente a Leste do Paraíso...

rlp

PSICOLOGIA INTEGRAL

"Qualquer debate sobre o Princípio Feminino acaba sempre por embater com o facto de o valor da nossa linguagem advir de uma perspectiva masculina, utilizada por homens e mulheres. Masculino significa penetrativo, funcional – “Faz alguma coisa sobre isso”, enquanto Princípio Feminino é o ser em si mesmo - literalmente a força nutritiva da existência, porque ele é a própria existência. Actualmente, existe uma preferência pelas formas masculinas de comunicação e estamos a tentar intervir aí com a sensibilidade feminina. A minha motivação pessoal para isso está de facto afectada. Há um nível de sofrimento a que se não consegue responder, uma realidade sentida no corpo correspondente a algo que não foi ouvido, algo que não torna presente a consciência que em tempos existiu.
Isto está relacionado com a prioridade dada à informação em detrimento da saúde emocional e psíquica da encarnação."
(...)
sofia diaz

sábado, outubro 10, 2015

AS VEZES APETECE-ME DESISTIR...

Ás vezes penso que escrever neste blog já não tem qualquer valor ou faz qualquer sentido...e no entanto continuo não sei se por resiliência, apego, afecto ou se ainda creio na difusão de uma Consciência que concerne o Ser Mulher em si...

...às vezes apetece-me desistir...desacredito e fico sem vontade...

Mas eu vou ficando apesar disso, não sei bem porquê... Talvez porque há  mulheres que sei assíduas há anos e se por um lado a grande maioria não diz nada, por outro,  há  mulheres que de repente dizem algo muito importante e recebo comentários extraordinários de alguém que me agradece o que lê e de como a sua vida mudou no simples acompanhar  do que escrevo e publico aqui mas que também acabo vendo publicado em tantos blogues,  sem o meu nome próprio, sem referência a origem dos excertos e citações ou mesmo plagiadas...
Ao longo destes 15 anos tem havido muitos comentários importantes e porque por  vezes sou eu que não respondo às minhas leitoras com a devida gratidão QUERIA PEDIR DESCULPA por isso...
Enfim, com tudo isto e vacilando tantas vezes, vou sempre escrevendo, por vezes cheia de fé em algo que pressinto, uma verdade iminente, uma realidade possível,  ou outras  dando lugar a palavras desesperada, de raiva ou de confronto, outras revoltada,  outras vezes inesperadamente inspirada...mas sempre... e SINCERAMENTE EM BUSCA DE MIM...

Não, eu não acredito na perfeição de nada nem de ninguém, nem na ideia certinha de se fazer ou dizer as coisas mais bonitinhas e que há um caminho inequívoco, um só caminho para chegar a algum lado fora...ninguém chega a nenhum lado estável e perfeito, como dado adquirido na escala da evolução da consciência...
O Caminho é muito longo e infindável e para mim é sempre para dentro e em verdade e com total sinceridade!

A verdade é que cada dia que passa eu sei melhor o que significa "SÓ SEI QUE NADA SEI", nem isto é novo...mas sim  cada vez sei menos de tudo e mais de mim ...mas é mesmo isso que se passa - a minha vida é e sempre foi uma busca de mim mesma sem certezas nenhumas nem dogmas. Creio no que creio, mas sobretudo na autenticidades das palavras e dos gestos, na introspecção verdadeira,  e perdoou tudo, mas tudo, o mal e o erro e a fraqueza e até a traição dos seres humanos, menos a mentira...sim sou implacável com o que não creio e sobretudo com as pessoas que se dizem ou pretendem ser uma coisa e não são.

Não há nada que me tire mais do sério...do que  a falta de seriedade e honestidade de alguém...e porque já não tenho idade para brincar a fazer de conta que sou isto ou aquilo, já não ando aqui a brincar com a cultura nem com a espiritualidade e sei muito bem das minhas eternas imperfeiçoes, nunca vou aceitar ou admitir alguém que me venha enganar com discursos feitos e ideias fabricadas, vazias de coração e sem alma.
Há tanta gente  a saber tanto e com palavras tão incríveis mas só diz mentiras embora licodoces e pretensamente bondosas...parecem justas e amáveis, mas são completamente outra coisa e dessas pessoas eu tenho asco...prefiro o veneno e a verdade nua, dura e crua  ou até a brutalidade do que toda essa gama de coisas bonitas, boas e maravilhosas que circulam na Internet e nos blogues sem VERDADE NENHUMA de dentro...escritas só para a montra do querer parecer!

O que eu vejo em geral neste universo internáutico é que as melhores das intenções e a mais elevada das causas - quando eu conheço quem está por detrás delas pessoalmente ou conheci as suas verdadeiras intenções, egoicas e meramente de interesse pessoal- , fico siderada e cada vez mais é tudo o que está à mostra de "bem, belo e solidário" tem a coisa macabra por detrás: o ego, a mentira, a fraude ou o simulacro...
Foi sempre assim, mas só agora estamos a ver tudo as claras...
Tenho pena de quem acredita ainda nas "boas intenções" (de que este inferno está cheio!), como de quem vê por detrás das máscaras...
Lamento, mas acima de tudo a verdade doa a quem doer e mesmo que me corte um pé - como a carta da Morte do Tarot, o nº 13 que sempre gostei...

Rosa Leonor pedro

IMAGEM: Mensagem carta Morte tarot

"Aqui a tarefa é deixar A Morte se apoderar de tudo aquilo que não lhe serve mais. Hábitos, pessoas, defeitos. É um processo doloroso, mas necessário.  Observe suas emoções, sinta com liberdade o sentimento que vier durante este processo.
Lembre-se que A  carta Morte tarot não representa somente o fim das coisas, mas apenas uma transição de um estado para outro melhor.
Quando esta carta aparecer saiba que é hora de por fim àquilo que é desnecessário e prejudicial, para renascer vitorioso."*
*in Lotus e esoterismo

UM CÁLCULO ERRADO..



"Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que,  somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as  incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter  tido carinho, pensei que amar é fácil porque eu não quis o amor  solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a  transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito,  meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É  porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu  amaria – e não o que é. É porque ainda sou eu mesma, e então o castigo  é amar um mundo que não é ele. É também porque me ofendo à toa. É  porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito  teimosa."

de Clarice Lispector,
in 'Felicidade Clandestina

MULHERES PREMIOS NOBEL DA LITERATURA


DE RESTO...



MINHA ALMA ESTÁ CANSADA DA MINHA VIDA...

"Tanta inconsequência em querer bastar-me! Tanta consciência sarcástica das sensações supostas! Tanto enredo da alma ...com as sensações, dos pensamentos com o ar e o rio, para dizer que me dói a vida no olfacto e na consciência, para não saber dizer, como na frase simples e ampla do Livro de Job, «Minha alma está cansada de minha vida!"


LIVRO DO DESASSOSSEGO - Fernando Pessoa

a alma e o corpo...




"Fora das discussões metafísicas, existe uma experiência profunda do ser, em que se sente a consciência encarnada. É um estado em que todas as células funcionam em uníssono presentes em todas as sensações, quando se está com outra pessoa, até parece que há fios que nos unem, e que podemos mostrar e ver a alma. Não é um estado fácil de experimentar, porque quase todos vivemos com partes de nós dissociadas. No dia a dia, talvez um braço e umas costas pertençam a uma menina abusada, uma perna tenha o impulso da sobrevivência, e as costas defenda todo o peso do mundo.
Não obstante, podemos viver momentos de lampejos da alma, como quando conhecemos alguém e nos enamoramos profundamente (será por isso que esperamos tanto esta experiência?), Ou um momento de felicidade, ou de triunfo perante uma adversidade, ou no nascimento de um filho, ou no nosso próprio renascimento após um trauma.
O triste na vida é que esses ventos fortes de aroma de alma são escassos. Os esforços do dia-A-dia nos voltam a dissociar e colocar de novo as defesas em marcha face aos perigos imaginários, por essa memória cruel que nos separa do presente. Os amantes já não se mostram a alma, mas agora surgem as espinhas na pele, as garras nas mãos afiadas. Uma pena. E então começamos a desejarmos algo externo, um outro amor, uma outra paisagem, outro milagre que nos volte a encarnar a alma.
Precisamos de coragem e recuperar a alma. Não uma espécie de fantasma que vai ou vem, mas esse impulso vital que orquestra as nossas células e lhes faz tocar uma melodia em uníssono, harmonioso. E então, o braço já não é uma barreira, nem as costas uma defesa ao mundo, nem são usados para se protegerem. E sobrevem o gozo. Talvez por isso a linguagem do amor e dos místicos se parece tanto."



Texto de Ana Cortiñas Payeras

sexta-feira, outubro 09, 2015

O sistema cardiovascular das mulheres é diferente do dos homens.


AS DIFERENÇAS ENTRE
O HOMEM E A MULHER

 "Durante milhares de anos, a nossa cultura tem valorizado mais os corações masculinos do que os femininos. Os sonhos e os desejos que fortificam o coração das mulheres, tal como os corações vulneráveis e sensíveis dos homens, têm sofrido como consequência. Eis os factos:

• A grande maioria da investigação da doença cardíaca e do respectivo tratamento tem sido realizado em homens, apesar de o sistema cardiovascular das mulheres ser diferente do masculino.

• Nas mulheres, as conexões do cérebro ao coração são diferentes das conexões dos homens. Existe uma maior lateralização nos cérebros dos homens do que nos das mulheres, o que significa que, na generalidade, a maioria dos homens utiliza somente um hemisfério de cada vez, normalmente o esquerdo, associado ao pensamento linear, lógico. Por outro lado, as mulheres usam ambos os hemisférios em simultâneo e acedem com mais frequência ao direito. Este encontra-se relacionado com a música, com as emoções, com a intuição e com a profunda experiência pessoal. E aqui que as coisas se tornam interessantes. Existem mais conexões ao nível dos neurónios entre coração e o hemisfério direito. Portanto, em qualquer momento, uma mulher possui uma maior conexão neurológica e emocional ao coração do que a maior parte dos homens. "
(...)
IN a sabedoria da menopausa de Christiane Northrup

O PODER DA MULHER


O PODER DAS MULHERES


Primeiro gostaria de dizer (uma espécie de aviso) que nós portuguesas em particular (e não só, como é óbvio)  temos um certo "parti pris" para com o poder das outras mulheres, que para além da velha competição entre si, há uma reacção visceral contra principalmente as mulheres mais velhas...

Não, nós não temos essa cultura de aceitar a tutela da "Mãe" ou da mulher mais velha, a que fez a passagem (com ou sem ritos) para a outra fase da sua vida, passando pela experiência e os vários ciclos que implica essa mudança, para a dita 3ª idade, ou seja a mulher sábia (e o termo aqui até nos aparece logo demasiado pretensioso e pesado). Por outro lado é fácil entender logo a ideia pela rama (e pela raiva) como apenas sendo a afirmação de um poder pessoal ao nível do ego..."Ela tem a mania que sabe tudo"...ou da afirmação de poder abusivo sobre os outros/as que é o que estamos habituadas desde que nascemos no mundo dos homens: confronto e competição.

Embora o ego nunca esteja totalmente fora de questão, ao nível das personalidades, ele é de facto  a grande ameaça ao poder inato e interior da mulher, e raras são aquelas de nós que estejamos já livres dele e dessa famigerada competição entre mulheres...Mas ele (ego) é facilmente identificável quando nós já não estamos em ressonância com o nosso próprio (ego) e portanto já não estamos em competição com as outras mulheres...
O que eu digo e sinto portanto quando falo do Poder da Mulher é bem diferente do que se possa pensar; não é o saber intelectual nem outro qualquer saber adquirido nos livros: é o poder inato e interno que nos assiste e vem de dentro e que é inerente a todas as mulheres e que corresponde à sua a voz do útero, à sua consciência como fêmea ao afirmar-se na sua liberdade como ser humano, como senhora da sua vida e do seu corpo e não como uma marioneta dos homens sob o seu jugo ou poder, como objecto sexual ou de reprodução, ao serviço do Estado e do Sistema que julga que pode continuar a decidir ainda sobre o Corpo e a vida da MULHER.  
 

Mas há ainda uma questão mais sensível...nós estamos todas marcadas pelo falso poder de mulheres que se dizem de "mulheres de poder" (seja ele qual for) e que se afirmam na politica ou na sociedade, pelo intelecto e totalmente esvaziadas de identidade e género, fazendo-se passar por algo que não são ou dando-se uma importância desmedida, embora por vezes  passando por ter uma atitude "humilde" ou solidária, passam sim e afinal de contas por cima de tudo e de todos/as e acabam por serem "poderosas" à sua maneira, afirmando precisamente o contrário e disfarçando muito bem a sua sede de poder egoico e pessoal, seja onde for incluindo no aspetco da "espiritualidade".
Ora o poder pessoal e o empoderamente da mulher - não é um poder sobre os outros/as...é o poder da nossa essência manifesta ou expressa que nos outorga de si esse poder que imana de nós quer queiramos ou não, e que nos dá idoneidade quando dele estamos conscientes e se somos verdadeiramente HUMILDES e não a fingir que o somos...


Sem dúvida que mulheres autênticas e com esse poder natural expresso na sua simples presença, a existir SÃO DE FACTO RARAS, e nem precisam de se anunciar, ou afirmar-se - elas são naturalmente reconhecidos pelo que são, mas cabe-nos a nós saber fazer essa diferenciação e reconhecer pelo coração inteligente a mulher que é verdadeiramente humilde e exala ou emana esse poder pelo seu brilho interior de amor e compaixão e não pela sua arrogância ou pretensão a mestra ou seja qual for essa sua pretensão. 

Digo que o poder da mulher está dentro da mulher que Sabe e tem a coragem de o assumir e o vive a partir de dentro porque é una em si, integra, e não pretende nem ser admirada nem se afirmar perante as outras mulheres, nem conquistar audiências ou públicos através de uma falsa sapiência ou autoridade

E hoje o que mais me apetece fazer é sim, dar uma grande gargalhada de Bruxa quando penso na pretensão de se saber alguma coisa de cor...e dar-se esse saber por garantido, quando afinal  NINGUÉM SABE NADA QUE NÃO VENHA DO CORAÇÃO... 

rosaleonorpedro

Republicando - Texto revisto e acrescentado

"A guerra não tem o rosto de uma mulher"



UM ROSTO DE HUMANIDADE VERDADEIRA

«Procuro vidas para serem observadas, para perceber as nuances, os detalhes. O meu interesse não é o evento em si, não é a guerra como tal, não é Chernobil, não é o suicídio. O que me interessa é o que acontece com o ser humano, o que acontece com ele em parte do nosso tempo. Como o homem se comporta e reage.»

"- Todos os anos a 8 de Outubro são anunciados os Nóbeis de Literatura. É importante este Prémio e a forma de o fazer acontecer. A ficção é um estilo cada vez mais em queda, e há muito que o sinto e prevejo. Não se pode mais com histórias ficcionais demagógicas... sem legenda. A inventividade, a criatividade, passa hoje por usar a língua como ferramente não da superação do real , mas de como fazer transmitir esta insólta realidade.- Como escrever em bases que as gerações futuras acreditem que não estamos loucos, ou que estas realidades foram assimiladas pelas "vozes" que dizem estas coisas. Parabéns Svetlana.- " de Amélia Vieira



SOBRE A AUTORA:

A escritora e jornalista Svetlana Aleksievitch, Nobel da Literatura 2015, afirmou hoje que respeita a Rússia da cultura e da ciência, mas não o «mundo russo de Estaline e Putin».

A autora falava aos jornalistas em Minsk, capital bielorrussa, horas depois do anúncio de atribuição do Nobel da Literatura.
Na conferência de imprensa, Svetlana Aleksievitch afirmou que as pessoas não se deviam submeter aos sistema totalitários e afirmou que o Nobel da Literatura é uma recompensa pessoal, mas também para a cultura bielorrussa e para um "pequeno país que sempre viveu sob pressão".
O encontro foi marcado por causa do galardão, mas a escritora acabou por falar sobretudo da atualidade política, nomeadamente sobre a Rússia.
Svetlana Aleksievitch, 67 anos, era uma das autoras favoritas ao Nobel da Literatura e, desta vez, as apostas estavam certas. A Academia Sueca anunciou hoje o nome da escritora, elogiando a escrita "polifónica, um monumento ao sofrimento e à coragem no nosso tempo".
Svetlana Aleksievitch é a primeira jornalista mulher a ser distinguida com o Nobel da Literatura e receberá o galardão, no valor de 860.000 euros, a 10 de dezembro, em Estocolmo.
A academia refere que, devido às posições políticas críticas ao regime, Aleksievitch viveu exilada na Itália, França, Alemanha e Suécia.
Nascida sob bandeira soviética, em Ivano-Frankovsk, na Ucrânia, Svetlana Aleksievitch é filha de um militar bielorrusso e mãe ucraniana. Entre 1967 e 1972, a autora estudou jornalismo na Universidade de Minsk.
Os seus livros estão traduzidos em 22 línguas e alguns foram já adaptados para cinema e teatro.
Em 2013 foi distinguida com o Prémio Médicis Ensaio pela obra "O fim do homem soviético", que encerra uma série de cinco volumes intitulada "Vozes da utopia", na qual aborda a ex-União Soviética (URSS) e a sua queda, numa perspetiva individual.
Este livro foi publicado este ano em Portugal, pela Porto Editora.
A série foi iniciada com "A guerra não tem o rosto de uma mulher" (tradução livre), primeiro livro da autora, que se baseia em entrevistas a centenas de mulheres que participaram na II Guerra Mundial (1939-45).
Diário Digital / Lusa