O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, outubro 03, 2017

A MORTE ANUNCIADA...




"Selvagem Forma De Ser"

(…) Vou cantar uma triste canção. Vou cantar e, o meu canto é fúnebre. A morte me chama, me chama, me chama; todos os anjos me chamam e todos os deuses me chamam. Estou morrendo e ninguém se apercebe; ninguém consegue ver. Faz um longo tempo que preparei o corpo, limpei-o de todos os seus vícios. Quero ser uma noiva pura, imaculada para me entregar à morte. Pouco tempo me resta aqui, em pouco me tornarei anima no céu.
Sempre me tentaste como uma serpente! Sempre ataste os meus pés com essa corda crua e nua. Não chegou teres-me morto em vida, e, agora vaidosa e arrogante, queres a morte do meu corpo. Imensurável é a tua crueza que só me deixaste este corpo. Este corpo fraco ao frio, ao calor; à dor, à alegria. E agora, queres ele também. Ninguém me vê, apenas tu e a tua crueza. Olhas-me brilhante, como se fosses a mais negra das noites. A mais sedutora mulher fatal. Tão brilhante que quase me convences, mas as mulheres fatais apesar de serem irresistíveis, elas matam com o seu brilho. Por isso são fatais, mulheres fatais. O seu lipstick vermelho, é o sangue que corre pelo corpo num último beijo.
Podes rir, rir alto! Ri como quiseres e como ousares. Ri, porque eu finjo que não te ouço e vou para a outra margem. Espero um outro barco. Finjo que espero um outro barco que me leve para longe de ti. Tão longe, que não te possa mais conceber nem na miragem da minha mente. A loucura virou-me as costas, mas tu és a consciência perfeita, estás aqui bem ciente; estás aqui bem vestida e teu rosto é bem definido. Chamas-te morte!! É assim que te apresentas. O teu abraço é frio, como um glaciar. Talvez queiras me congelar, assim o crime auto-imposto seja mais fácil. És inteligente. A tua força está na inteligência, e eu sou a tua fraqueza. Matares-me, é matares-te a ti mesma. Cega e cega… o és cega!!

Sim!! Sim!! Eu ouço-te. Eu vejo o mapa geográfico do corpo. Por onde começo? – pergunto. Tu olhas para todos os lados e começas a delinear com um marcador os lugares onde poderia… poderia acontecer aquilo. Sim, sei… sei que o tempo está cada vez mais próximo. Por isso meu corpo está cada vez mais puro, para te receber. Vou virgem, vou casta, vou limpa. A noiva perfeita; a tua noiva perfeita. Falta-me apenas verter todas as lágrimas – lágrimas que vertem quentes sobre o gelo do corpo – e fazer o adeus consciente. Faço a escolha. A escolha obrigatória, sem contradição; tão clara é a consciência que não voltarei atrás na escolha. Apenas porque nada é maior que isto… isto!! A única e verdadeira amiga neste momento dá pelo nome de Morte. Nada prova o contrário àquela que escolheu ser sua noiva. Noiva pura, casta, limpa. Toda despida, vai nua a noiva e, apenas um longo véu a cobre.
Está tudo tão próximo e ninguém sonhou… um dia vão chorar, e quando chorarem será tarde, porque aqui já não estou!! Casei-me oficialmente com a morte. Eu digo: “obrigado, obrigado. não precisam de rezar e orar. é tarde. Ora-se em vida quando se precisa e não depois da morte.” (...)

A. F. (Ceramica)
Género: Escrita Criativa
Autor: NãoSouEuéaOutra

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