O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, abril 17, 2018

Sendo assim para quê publicar?



CENSURA...
E DEPOIS (DELE)...NADA...

"Não é que não publique porque não quero: não publico porque não posso. Não se entendam estas palavras como dirigidas contra a Comissão de Censura; ninguém tem menos razão de queixa do que eu dessa Comissão. A Censura obedece, porém, a directrizes que lhe são superiormente impostas; e todos nós sabemos quais são, mais ou menos, essas directrizes.

Ora sucede que a maioria das coisas que eu pudesse escrever não poderia ser passada pela Censura. Posso não poder coibir o impulso de escrevê-las; domino facilmente, porque não o tenho, o impulso de as publicar nem vou importunar os Censores com matéria cuja publicação eles teriam forçosamente que proibir.


Sendo assim para quê publicar? Privado de poder publicar o que deveras interessará o público, que empenho tenho eu em levar a um jornal qualquer o que, por ilegível, lhe não serve, ou que (...)

Posso, é certo, dissertar livremente (e, ainda assim, só até certo ponto e em certos meios) sobre a filosofia de Kant (....)"


Fernando Pessoa

Nota a margem

Pior do que a censura diria é a mentalidade de uma época em que já ninguém pensa ou lê ou escreve cosias sérias...
rlp

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